segunda-feira, dezembro 07, 2015

Este é o incrivelmente disparatado, obsceno e esquizofrénico mundo em que vivemos.































Enquanto o Papa roga pela "atenuação das alterações climáticas", como se o clima fosse algo que os homens pudessem manipular assim, por invocação papal (na verdade, Francisco deveria solicitar essa "atenuação" a Deus, embora os resultados fossem basicamente os mesmos), Obama, sempre acompanhado pelos seus fanáticos seguidores do New York Times, desvia a questão do terrorismo islâmico para um assunto que não tem nada a ver com o terrorismo islâmico: o direito ao porte de armas de fogo, consagrado pela constituição americana. Os pais fundadores dos EUA achavam que as pessoas deviam ter armas para se protegerem contra o ímpeto totalitário do estado (para Jefferson, o estado federal seria sempre uma entidade fascistóide e - no fundo - essa desconfiança ainda hoje é legítima). Uma coisa óbvia que Obama não percebe de todo, entre muitas coisas óbvias que é incapaz de perceber, é que o seu zelo contra a posse de armas configura precisamente o ímpeto totalitário que muitos americanos invocam para continuarem agarrados às suas pistolas, espingardas e metrelhadoras. E, assim sendo, há hoje, nos Estados Unidos, políticos no activo que se fazem fotografar para um post de Natal acompanhados da sua família e armados até aos dentes (não, não estou a inventar). A América é uma guerra civil à espera de acontecer.

Entrementes, o terrorismo muda de figura. Agora é interpretado por qualquer infeliz que se identifique com o Estado Islâmico. Basta ser-se muçulmano e desempregado. Em cada atrasado mental temos um terrorista em potência. E de quem é a culpa? Do patrão que o despediu, claro. Da lei constitucional americana que o armou, claro. A culpa é de todos nós, claro, os ocidentais, por não sermos miseráveis, por não sermos bárbaros, por sermos razoável e irrazoavelmente tolerantes e por desenharmos caricaturas de Maomé e por usarmos uns telemóveis mesmo giros e por termos separado já aqui há uns séculos aquilo que diz respeito à política daquilo que diz respeito a Deus.

Entrementes, a rapariga Le Pen está prestes a levar o seu triste barco a bom porto porque os franceses estão fartos de serem ideologicamente franceses e de serem rebentados pelos muçulmanos que acolhem no contexto do mais disparatado slogan da história: liberdade, igualdade, fraternidade. A liberdade é antípoda da igualdade (quanto mais há de uma espécie, menos há da outra) e a fraternidade só é possível quando partilhamos todos, mais ou menos, os mesmos valores fundamentais. Não é possível ser fraterno com o cidadão que desata a fuzilar uns putos que estão a tomar um vermute numa esplanada de Paris. A Quinta República francesa é um funeral à espera de acontecer.

Entrementes, o imperturbável Matteo Renzi acha que o Estado Islâmico não deve ser perturbado e recusa a participação italiana na onfensiva das forças ocidentais. Não fosse a inacreditável irresponsabilidade e cobardia do primeiro ministro italiano, talvez reforçada pelo simples facto de que ainda não houve mortos inocentes nas ruas de Roma, esta até seria uma boa notícia, sabendo-se como se sabe que os italianos são, regra geral, muito maus soldados. Servem no entanto estas tristes considerações de Renzi como excelente ilustração da mais total ausência de solidariedade entre os estados europeus. A União é um sonho à espera que toque o despertador.

Entrementes, e dado o carácter surreal da presente realidade, Putin é o grande herói. É o grande humanista. E é neste momento o pior inimigo do Estado Islâmico, de facto.

Entrementes, em Portugal, a imprensa trata o actual governo como se fosse legítimo e Costa como se fosse digno de assumir os destinos da Nação. Há uma espécie de jogo do faz de conta que mete um bocado de nojo. A simples imagem fotográfica deste primeiro-ministro, que deve ter nascido com aquele sorriso cínico e detestável colado à tromba, mete-me um bocado de nojo.

Entrementes, Pacheco Pereira passou, em dez anos, de discípulo de George W. Bush para apoiante da candidatura presidencial daquela rapariga do Bloco de Esquerda cujo nome, felizmente, agora me escapa.

Entrementes, torna-se muito difícil manter qualquer vestígio de sanidade.