Fotografia de Michael Najjar
O mundo encolhe a cada ano que passa e de tal forma
que esta é a nova teoria do caos:
o mau hálito do imã de Islamabad
infecta o ar de Paris.
A aldeia global, sabemos agora, é um pesadelo enorme,
maior que a aldeia.
Estamos todos ligados e isso
não é nada bom.
Tiramos e atiramos auto-retratos desesperados
para dentro da rede e isso
é super aborrecido.
Estamos todos apertados na quadratura deste círculo planetário,
bordel conspícuo e perverso de tudo,
micro-cosmos mal educado e selvático,
repleto de lojas chinesas que cheiram a caril
e restaurantes italianos com móveis do Ikea.
E assim encapsulados no grande calabouço do humanitarismo,
entregámos a defesa do Ocidente aos socialistas
e a indústria aos ambientalistas
e a religião aos cientistas
e a ciência aos filósofos
e a verdade aos jornalistas;
entregámos até o espaço sideral à ganância
de capitalistas arrependidos que fabricam automóveis eléctricos
e ao diletante capricho de outros milionários que só querem
fazer turismo.
O Sapiens 2.1 é uma raça de turistas.
Tudo o que o homem contemporâneo deseja, com fervor fanático,
é enfiar-se num low cost desconfortável que o leve
para um inferno diferente
do inferno de que é nativo.
Os infernos são todos iguais
e o Sapiens 2.1, o mais pueril de todos os sistemas operativos,
o mais insensato de todos os desenhos inteligentes,
ainda não percebeu isso.
Depois de termos assassinado os deuses
naquela que foi afinal a maior chacina da história da humanidade,
parece que chegou a vez de enterrar também
a dignidade.
À beira do abismo, damos um passo em frente,
e a tragédia não está na queda.
A tragédia está no fim
da aventura.