terça-feira, dezembro 29, 2015

O pi(piii!!)ropo


POR MÁRCIO ALVES CANDOSO

'Como não podem saber o que vai ou não ser considerado crime, calem-se'. 

Quase a terminar o ano, a deputada - para simplificar - Isabel Moreira enunciou uma frase que é séria candidata ao insígne louvor de 'mais fascista de 2015'. Falava a senhora - espero que 'senhora' não seja considerado insulto - do coelho fora da cartola que decorre de uma alteração do Art. 170 do Código Penal, proposto e votado pela silenciosa e bovina maioria parlamentar que então dominava o Parlamento.

Não, criaturas e outras pessoas que me lêem, não foram as deputadas expressionistas e cubistas do BE quem aprovou a criminalização do piropo - ou da ordinarice de andaime, ou lá o que é, que ninguém sabe o que é, e daí a minha escolha de epígrafe, da voz mal colocada da senhorita Moreira: na dúvida - que me assiste - 'calem-se!'

Foram mesmos as/os do PSD/CDS. Pelo 'calor da noite' augustina - não confundir com a bela e atraente escritora de Aldoar, refiro-me mesmo ao mês das férias -, o Parlamento votou favoravelmente uma alteração legal que, analógica ou extensivamente interpretada, permite meter na cadeia o trolha que lance um 'se te trincasse nunca mais engripava, tens um cu tão redondo que pareces uma aspirina' (esta foi inventada mesmo agora, haverá melhores, não sou especialista).

Há homens muito malcriados e sem imaginação nenhuma. Há, não tenho dúvidas, machos que deviam andar açaimados, e cuja única hipótese de não se coçarem em público com sorriso alarve era que lhes tirassem as unhas, os tomates e lhes cosessem a boca.

Mas o Direito, amigos, a Ordem Jurídica, não foi inventada para tomar conta destes afins. É uma ciência nobre, dedicada a definir contratos, punir desvios e sanar conflitos. E não gosta nada, nem um nadita mesmo, de leis em barda. Quanto mais simples, mais entendível e facilmente aplicável. Se já existe o assédio sexual - e bem -, porque raio se há-de punir o piropo, quando nem sequer a senhora dona Isabel Moreira sabe do que se trata?

Para minha grande felicidade, conheço umas dezenas de mulheres bem-criadas que se riem, gostam ou pura e simplesmente ignoram o piropo que lhes é lançado. Isto em consequência de ele ser engraçado, andar perto do galanteio - ainda que com alguma brejeirice associada, por exemplo (e já disse que não sou especialista), 'gostava imenso de tomar o pequeno-almoço consigo, pode vir ter a minha casa por volta das onze da noite?', ou - e esse é o caso limite - não passar de uma boçalidade insanável. Mas, que eu saiba, os trolhas cheios de cal nas calças e cimento nas unhas, que cospem para o chão e bebem minis pelo gargalo, também se casam.

As 'democratas' senhoras que penalizam a puro piropo - o tal de 'na dúvida calem-se' - nem sequer percebem (digo eu, que sou um optimista) a camisa de onze varas onde se meteram. Graças a Deus, há-de continuar a haver homens que seduzem pela palavra, que ficam viradinhos dos olhos perante a beleza feminina que passa pela praia de Ipanema e que, uma ou duas vezes na vida, se passam de tal maneira que sacam flores do canteiro mais próximo para oferecer a uma - por exemplo - desconhecida.

E claro que haverá uns apalpões no autocarro. São comportamentos desviantes, que em princípio se resolvem com uma belo par de estalos, mas que, sim senhor, se for caso disso podem chegar a entupir o tribunal de todas as maldades. Mas poupem-me. No mínimo, deixem-me dizer isto: 'ó querida, deves ser relojoeira; quando chegaste tinha o ponteiro nas seis e mal te vi passou para o meio-dia! 

'Take care' e mini-saias travadas.. Ou burkas, se lhes ficarem bem!