Sinceramente, não percebo qual é o mal das pessoas resolverem os seus problemas à bofetada. Inclusivamente ministros: um ministro não tem culpa de ser ministro no mesmo sentido em que um idiota é inocente da sua condição, e deve usufruir dos mesmos direitos que as pessoas normais. Qual é o escândalo do Ministro da Cultura querer dar uns tabefes neste ou naquele? Bem vistas as coisas, a violência física é um problem solver milenar e de eficácia assegurada. Um estaladão é higiénico, honesto, rápido e eloquente sem ser retórico. É uma excelente ferramenta política.
Quando muito podemos talvez aconselhar João Soares a evitar o anúncio da porrada, na medida em prepara antecipadamente o adversário para o combate. Este último, avisado, pode muito bem munir-se de uma boa e queirosiana bengala de cabo de aço e escangalhar o ajuste de contas do ministro, bem como algumas áreas estrategicamente seleccionadas do seu magnífico corpo.
Não há muito tempo atrás, as elites europeias resolviam as suas desavenças em duelo. Era um outro método deontologicamente correcto e, acima de tudo, definitivo. Depois de se envolverem num cavalheiresco tiroteio, os honoráveis adversários não voltavam, regra geral, à mesma teima. Até porque, de vez em quando, um dos teimosos ficava logo ali mudo e frio para toda a eternidade. Ora, se este ritual permaneceu vivo e recomendável durante uns séculos, porque raio é que a bofetada agora cria alergias a tanta gente?
A pancadaria é o mais antigo, o mais usado e o mais útil instrumento da civilização.
De resto, parece-me excelente que as soberanas questões da cultura
nacional (e outras, muitas) sejam resolvidas desta forma limpinha. Afinal, digam-me: conhecem uma melhor solução para o João Soares do que um enxerto de porrada à antiga?
É que eu não estou a ver outro remédio.