segunda-feira, abril 04, 2016

O dinheiro, essa igreja universal.

Há, na história dos homens, apenas um elo sagrado que os une a todos: a ganância.
O dinheiro é a única religião, o singular valor absoluto que transcende todas as discórdias e que reúne no mesmo altar crentes e ateus, muçulmanos e cristãos, revolucionários e conservadores, gregos e troianos, castelhanos e catalães, argentinos e brasileiros, judeus e palestinianos, indianos e paquistaneses, flamengos e valões, russos e polacos, alemães e franceses, islandeses e suecos, albaneses e italianos, sérvios e turcos, russos e ucranianos, coreanos do norte e do sul, vilões e heróis, profissionais de golfe e amadores de futebol de salão, pretos e brancos, homens e mulheres, índios e cowboys, polícias e ladrões, juízes e criminosos, patrões e operários, ministros e funcionários, políticos e jornalistas, sindicatos e empresas, ambientalistas e industriais, professores e alunos, associações desportivas e organizações humanitárias: enfim, não há conflito sem resolução, não há inimizade sem cura, não há guerra que não seja aplacada pela paz dos milhões.
Os papéis do Panamá não dizem nada de novo. Qualquer pessoa que tenha lido um único livro de história na vida, sabe muito bem que as coisas são como são. O que surpreende é o tom escandalizado da imprensa. Nesta fuga de informação, há de certeza gente que detém capital em orgãos de comunicação social. De certa forma, hoje em dia, todo o grande capital é sujo. Mas, se não houvesse capital sujo, não havia imprensa, porque, de uma forma geral, o negócio das notícias dá prejuízo e, por isso, a única forma de capitalizar estas empresas cronicamente deficitárias é aproveitá-las para lavar a sujidade que todo o dinheiro traz consigo.
Aliás, nos tempos que correm, parece que todos os negócios dão prejuízo. Até o petróleo dá prejuízo. Até a indústria do armamento dá prejuízo. Os únicos negócios que não dão prejuízo são o da fuga ao fisco (em grande escala, porque a pequena evasão fiscal também está pela hora da morte) e o da corrupção (a generalizada, porque a ocasional não tem futuro).
O mundo todo é um Brasil enorme ou um imenso Portugal. Todos estamos metidos até ao pescoço na mesma lama da ganância e da mais absoluta ausência de princípios. Não somos do Benfica ou do Sporting. Não somos de esquerda ou de direita. Não somos da mesquita ou da paróquia. Não somos de Platão ou de Aristóteles. Somos todos, em uníssono, do clube do cifrão. Ámen.



Pink Floyd . Money