quarta-feira, maio 30, 2018

Carta enviada ao Observador.

Viva, bom dia.

Conforme documento em baixo, acabo de subscrever a assinatura Premium do Observador. Faço-o por me identificar com o programa editorial da publicação, muito mais do que pela qualidade técnica do jornalismo propriamente dito. E estando em desacordo com a filosofia de gestão que preside ao produto "premium", peço a vossa paciência para explicar esta discórdia.

Os jornais querem ganhar dinheiro, como qualquer outro negócio, e eu respeito completamente esta premissa, que, além de tudo, é óbvia.

O Observador ocupa um espaço único e corajoso no panorama mediático português. Muito pela razão prosaica de que não tem concorrência. Não há outros jornais de centro-direita, exceptuando talvez a newsletter semanal do arquitecto (que ninguém leva a sério) e o correio tabloide (que se devia levar mais a sério). Seja como for, em boa verdade, estas publicações não concorrem directamente com o vosso público alvo.

É verdade que o corpo da redacção e consequente conteúdo das notícias do Observador me parecem muitas vezes pouco alinhados com a filosofia editorial, mas bem sei que é difícil encontrar jornalistas de direita (ou de centro) que fujam ao mainstream da esquerda. Se isto é verdade nos Estados Unidos da América, terá que ser científico em Portugal. As colunas de opinião, no entanto, compensam imenso essa (triste) deriva.

Neste contexto, percebo que o Observador queira subir a fasquia do negócio. O que me parece incompreensível, num jornal liberal (leia-se liberal no sentido europeu do termo) é que pretenda facturar primeiro e justificar o lucro depois. Quero eu dizer: os meus amigos estão a pedir dinheiro aos leitores para que estes usufruam exactamente do mesmo produto que já tinham de borla (a "borla" era até um orgulho editorial do Observador).

Tenho a certeza que o Dr. António Carrapatoso, pessoa que não conheço pessoalmente mas que muito admiro, me dará razão, quando digo que esta não será a maneira mais adequada de capitalizar um produto com potencial. O lucro pressupõe um investimento. É assim nos negócios, como afinal, na vida.

Permitam-me que vos recomende a prática inversa: subam, por favor, o nível do jornalismo corrente, que é, todos os dias, praticado na redacção do Observador. Partilhem essa qualidade durante dois ou três meses. E depois, sim, peçam aos vossos leitores para pagar algo que entretanto se percebeu como um investimento. Como uma mais valia. "Estamos a fazer melhor jornalismo. Investimos nesse jornalismo de qualidade. Agora, caros leitores, é altura de contribuírem para a continuidade desse esforço."

Isto faz sentido. E é justo.

Quando assinei o The Economist, estive dois meses à experiência. Gostei da experiência. Assinei. Isto faz sentido. E é justo.

Aceitem os meus mais cordiais - e leais - cumprimentos;

Atentamente;

Paulo Hasse Paixão