Nas notícias de hoje, leio que o sr. Dr. Manuel Pinho, que foi a uma comissão de inquérito do parlamento para explicar o inexplicável, não explicou coisa nenhuma. Porque pode. Não explica e não lhe acontece nada. Antes de ter ido ao parlamento tinha passado descontraidamente pelo DCIAP onde também conseguiu, impunemente, ficar caladinho que nem um rato (se calhar até fez uns corninhos aos procuradores). As comissões de inquérito do Parlamento desta República são trágico-cómicas. E não servem rigorosamente para nada. Mas quando até o DCIAP é impotente para ao menos conseguir interrogar, com eficácia, um evidente suspeito de burla milionária e descarada, torna-se bem evidente o caos judiciário em que o País se encontra a naufragar.
Leio também, ignorando o mal-estar que se insinua pelos poros todos da sensibilidade, sobre os militares da GNR que se recusam a multar os cidadãos à fartazana (aqueles que multam só de vez em quando, quando a lei e o bom senso assim o exigem). Parece que esses honestos tropas que se mostram incapazes de colaborar massivamente para o bolo tributário do Ministério das Finanças, costumam ir ao castigo. De tal forma que andam revoltados com os castigos a que vão. A maior parte dos ladrões têm o pudor da subtileza e preferem o anonimato. O Estado Português não. Rouba com toda a ganância, com todo o estardalhaço possível, de tal forma que até castiga aqueles que se recusam a roubar. É espantoso: o regime objectiva de facto transformar as polícias em coercivos agentes do fisco, uma espécie de PIDE do tributo, e os portugueses não parecem assim tão incomodados com isso.
Leio ainda - e já a sentir dores de vária ordem em todo o organismo físico-psíquico - que há 23 ex-gestores do BPN a quem o Estado acabou de oferecer 23 magníficos automóveis topo de gama. Reconhecida pela competência rara destes 23 executivos que levaram brilhantemente o banco à falência, a República retribui com generosidade: alguns deles continuam a auferir salários que são superiores ao rendimento mensal que é pago a Marcelo Rebelo de Sousa, pelo facto maçador de ser o Chefe de Estado. Hã?
Por fim, num último e desesperado sacrifício das minhas forças, leio que o Ministério da Educação decidiu que Eça de Queiroz é uma seca para os putos. E que não vale mesmo a pena impingir Os Maias às pobres criaturas que frequentam os liceus públicos. É preferível que leiam outras coisas de superior interesse, como romances da Marvel, sinopses do PornHub e a lírica do jornal Record.
Devo confessar que estas quatro patológicas leituras provocaram-me uma carga eléctrica de arrepios na alma, dois relapsos cardíacos, 4 alergias de espírito e uma constipação agravada nos brônquios do intelecto. Os factos são completamente sintomáticos da estupidez que reina, alarve e predadora, por esta República fora. E a estupidez, meus amigos, é endémica. Eu, por exemplo, fiquei completamente estupidificado de ser português.