O Anti-trumpismo é a nova doença infecciosa americana. E que pode muito bem tornar-se terminal. Um excelente exemplo é o que se está a passar com a Yahoo.
Um pouco de contexto: a Yahoo foi uma das míticas companhias do período áureo de Sillicon Valley, nos anos noventa do século passado. O algoritmo do seu motor de busca foi pioneiro e o YahooSearch, bem como o serviço de email, chegaram a ser líderes no mercado americano. Na entrada do Século XXI a companhia entrou num lento declínio, que se mantém ainda hoje. Em 2012, Marissa Meyer sobe a CEO para combater esse declínio, mas tudo o que fez foi acentuá-lo e em 2017 a companhia foi comprada pelo gigante das telecomunicações Verizon, que despediu a rapariga imediatamente. E bem (já vamos ver porquê).
A Yahoo é hoje, basicamente, um servidor de email e de conteúdos noticiosos (distribuídos através do servidor de email). Mas qual é o perfil dos seus clientes? Homens maduros, americanos, conservadores*. E isto é fácil de perceber: a companhia não tem grande aceitação nos jovens, que não percepcionam a história da marca e o seu carácter pioneiro, enquanto mantém ainda muitos clientes da sua época áurea, que agora estão nas faixas etárias dos 35 anos para cima. O carácter conservador da sua clientela deriva da rejeição do Google como marca de esquerda, por um lado, e pelo seu histórico de colaboração na área dos conteúdos noticiosos com a Fox News, que é o única operadora de âmbito nacional a editar à direita.
Ora, desde 2012, tudo o que a Yahoo tem feito é precisamente alienar - ou hostilizar - os seus clientes típicos. Marissa Meyer, uma liberal dos sete costados (liberal no sentido americano da palavra - à esquerda do espectro político) e feminista radical (viu-se a braços com vários processos civis por sexismo) cujo sonho era transformar a companhia numa outra Google, ignorou completamente o perfil dos seus clientes e começou a orientar os conteúdos no sentido das suas opiniões políticas e sociais, que são frequentemente de espécie radical.
Acontece que o despedimento de Marissa Meyer não teve como resultado uma alteração desse esquizofrénico esquema editorial, pela simples razão de que os jornalistas e criadores de conteúdos que a rapariga contratou continuaram lá todos. E desde que Trump foi eleito, o espectáculo é degradante.
As notícias do canal Yahoo não são bem notícias. São artigos de opinião anti-Trump (não, não estou a exagerar). E o que é verdadeiramente estranho e insensato é que as caixas de comentários a essas notícias, redigidos pelos clientes do serviço de email da companhia, são, em 90% dos casos (não, não estou a exagerar) de eleitores de Trump, revoltados com o tratamento que o serviço noticioso da Yahoo dá ao Presidente que eles elegeram.
Sendo esta autofagia, em tempos de alguma sanidade, impensável, é normal, nos tempos insanos que vivemos. Parace que a Yahoo não gosta dos seus clientes. Parece que quer correr com eles. Como muitas vezes parece que a CNN e a CBS e a NBC ainda não perceberam que estão a editar para um público que, numa boa parte, elegeu o actual inquilino da Casa Branca.
Há, de facto e hoje em dia, duas Américas. E o problema grave, o problema suicidário, é que nenhuma está interessada em conviver com a outra. Até ao ponto de desconsiderar os valores de negócio. E desconsiderar assim, como faz a Yahoo, os valores do seu negócio, é profundamente anti-americano.
* Ranking the media from liberal to conservative, based on their audiences; Who, What and When? – Profiling Google, Yahoo and Bing search demographics