"The answer to Donald Trump, you may say, is to do just the opposite of Donald Trump. Being noble, being kind, being classy. But I believe that we must honestly ask ourselves as a party whether those we fight for can afford our gentleness."
Michael Avenatti (D)
“You cannot be civil with a political party that wants to destroy what you stand for, what you care about. That’s why I believe, if we are fortunate enough to win back the House and/or the Senate, that’s when civility can start again.”
Hillary Clinton (D)
"It is time for our society to acknowledge a sad truth: America is currently fighting its second Civil War."
Dennis Prager (R)
A 14 de junho de 2017, em Alexandria, Virgínia, um destacado congressista republicano, Steve Scalise, foi baleado enquanto treinava para o Jogo Anual de Baseball do Congresso, um evento de filantropia republicano, programado para o dia seguinte. Crystal Griner, um oficial da Polícia do Capitólio dos EUA designado para proteger Scalise; Zack Barth, assessor do Congresso; e Matt Mika, um lobista da Tyson Foods foram também baleados. O tiroteio entre o atirador - James Hodgkinson, um ativista de esquerda - e agentes da Polícia do Capitólio e de Alexandria durou dez minutos. Hodgkinson acabou por ser atingido e morreu desses ferimentos no mesmo dia, no Hospital da Universidade George Washington. O Procurador Geral da Virgínia concluiu que Hodgkinson planeava o assassinato em massa de todos os republicanos que lhe surgissem pela frente. (1)
Este episódio de terrorismo puro e duro foi, tipicamente, muito pouco noticiado, até nos Estados Unidos. Mas é talvez o mais eloquente sobre o barril de pólvora em que assenta, periclitante, a república americana dos dias perigosos que correm.
Mas há mais. Há muito mais fogo cerrado nas trincheiras do combate político contemporâneo, nos Estados Unidos. E a verdade é que a polarização ideológica e cultural a que assistimos hoje na sociedade americana só tem precedentes históricos no período preliminar à guerra da Secessão. Mesmo comparada com a crise de identidade que a nação viveu entre 1965 e o inícios dos anos 70, com a guerra do Vietname a ser travada substancialmente na frente doméstica, a actual radicalização de conteúdos e retóricas partidárias (que tem origem no ataque às Torres Gémeas de 2001, nos decorrentes conflitos bélicos espoletados pela Administração Bush e pela consequente eleição de um marxista para a presidência) só tem paralelo na belicosa divergência entre os estados confederados e o governo central da primeira metade do século XIX.
Nos últimos 15 anos, a esquerda americana perdeu a sua tradição liberal e o Partido Democrata europeizou-se, no pior sentido do termo, sendo hoje, em termos ideológicos e culturais, um grande e heterogéneo Bloco de Esquerda. Esse shift dos democratas para a esquerda, deixou um espaço eleitoral livre e acessível ao centro, que o Partido Republicano prontamente - e precipitadamente - ocupou. Tornando o seu discurso mais secular, aceitando em boa parte o colete de forças do politicamente correcto e permitindo a ratificação sucessiva de legislação que colide contra os valores do conservadorismo cristão do núcleo duro - e crítico - do seu eleitorado natural, os republicanos não ganharam ao centro o que perderam à direita. O primeiro sinal deste desacerto estratégico surgiu com o Tea Party. A confirmação da catástrofe aconteceu com a eleição de Donald Trump.
O resultado de tudo isto é uma espécie de tempestade perfeita.
Considera, gentil leitor, a atual liderança do Partido Democrata. O presidente Tom Perez é um radical que encorajou abertamente a recente vaga de protestos violentos, interpretada por turbas que envergonham os mais niilistas dos activistas europeus. O vice-presidente é um declarado e notório anti-semita, Keith Ellison, conhecido pela tristemente célebre afirmação de que a Constituição dos EUA é a “melhor evidência de uma conspiração racista branca para subjugar outros povos”. (2)
Um e outro foram grandes apoiantes de Barak Obama, que, em 2008, disse num comício, a propósito dos seus adversários políticos à direita: “If they bring a knife to the fight, we bring a gun." (3)
Encorajados pela cúpulas do partido, os apparatchiks têm vindo, progressivamente e de forma assustadora, a subir a parada da hostilidade semântica e a intensificar os apelos à violência física. Dou apenas alguns exemplos, porque existem na verdade centenas deles.
- Em novembro de 2016, a actriz Lea Delaria não conseguia esconder o seu desejo quizilento (é dizer pouco) quando tweetou, sugerindo uma alternativa à violência da palavra escrita: "or pick up a baseball bat and take out every fucking republican and independent I see". (4)
- Em setembro de 2017, a comediante Kathy Griffin posou para o fotógrafo Tyler Shields segurando uma maquete da cabeça decepada de Trump. O fotógrafo vendeu a foto por 150 mil dólares. (5)
- Em declarações à CNN, no início de maio deste ano, Laurence Tribe, professor de Direito de Harvard, disse sobre o possível impeachment de Trump: "If you’re going to shoot him, you have to shoot to kill”.
- Em junho, a senadora Maxine Waters, da Califórnia, incentivou os seus partidários a assediar funcionários do governo Trump, sempre que os encontrassem em espaço público, informando esses funcionários da seguinte forma: "you're no longer welcome, anywhere". (6)
Da teoria à prática não passou muito tempo. Sarah Sanders (secretária de imprensa da Casa Branca), Kirstjen Nielsen (secretária do Departamento de Segurança Interna) e Ted Cruz (senador republicano) foram expulsos de restaurantes, a propósito das suas convicções políticas e dos cargos que ocupam. (7)
- Em julho, o senador Cory Booker, presumivelmente um futuro candidato à presidência - encorajou activistas a seguirem um comportamento que é, no mímino, discutível em democracia: "Get up in the face of congresspeople."(8)
- Em Setembro, Farzad Fazeli foi preso depois de tentar esfaquear um candidato republicano ao Congresso, num festival de outono em Castro Valley, Califórnia. Antes da tentativa de agressão, Fazeli gritou obscenidades sobre o presidente Trump, o Partido Republicano e as autoridades eleitas. (9)
- No domingo passado, na ressaca da tomada de posse do Juíz Kavanaugh, o procurador-geral da era Obama, Eric Holder, reforçou o tom agressivo e irresponsável que se está a tornar o novo normal da esquerda. Falando num evento de campanha na Geórgia, disse isto sobre os republicanos: “When They Go Low, We Kick Them". Confere esobre o estadte momento no vídeo em baixo, paciente leitor, e repara na reacção da audiência a esta inflamatória afirmação, que diz muito so de espírito instalado nas hostes democratas.
- Na segunda-feira, Hillary falou na impossbilidade de tratar o Partido Republicano de forma civilizada (post sobre o assunto aqui).
- Esta semana, o líder estudantil republicano John David Rice-Cameron foi agredido por activistas de esquerda quando tentava proferir um discurso em favor de Kavanaugh, na universidade de Standford. Ironicamente Rice-Cameron é filho da Conselheira de Segurança de Obama - Susan Rice. (10)
O tom belicista é hoje um componente formal do discurso democrata. Bre Payton, repórter do The Federalist, captou imagens de activistas à porta do Supremo Tribunal americano que gritavam “I’d shoot that motherfucker Kavanaugh in the face. Trump too” (11). A violência verbal tem gerado o caos e um sentimento de insegurança que não pode ser mais perigoso do que já é. Kelley Paul, a mulher do senador republicano Rand Paul, afirmou recentemente que dorme com uma arma carregada debaixo da almofada, como precaução contra "pessoas desiquilibradas" que são incitadas pelos democratas a assediar os legisladores republicanos (12). E Susan Collins, a corajosa senadora republicana do Maine, cujo voto permitiu a Kavanaugh a confirmação como juiz do Supremo, tem neste momento uma escolta de segurança que a acompanha nas suas actividades profissionais e pessoais, tanto em Washington como no estado que representa (13).
Um relatório completo e em constante actualização dos actos de violência e intimidação perpetrados contra republicanos e apoiantes de Trump - e sancionados pela imprensa - pode ser encontrado aqui.
A soma vai em 594 registos. Este relatório inclui 101 incidentes violentos contra seres humanos (incluindo crianças) e 43 episódios de vandalismo, destruição de propriedade e incêndios criminosos.
Se seguirmos o princípio normativo de Murphy, o mais provável é que um evento deste tipo, num futuro mais próximo do que julgas, pacífico leitor, desencadeie um conflito armado de largas proporções. Lembro que a guerra da independência americana começou oficialmente com um tiro apenas, disparado acidentalmente por um artilheiro do exército inglês. (14)
Enquanto isto, a Google entretém-se com briefings internos que evangelizam a "boa censura", explicando aos seus quadros que, devido a uma variedade de fatores, incluindo a eleição do presidente Trump, a tradição americana de liberdade de expressão na internet é inviável (15). A não ser, claro, que essa liberdade de expressão seja interpretada pelas turbas radicais de esquerda cujas acções de vandalismo e intimidação apenas cumprem um "direito constitucional", de acordo com a CNN. Num recente painel desta estação de propaganda da nova esquerda americana, alguém manifestou esta simpática opinião sobre Kanye West, um rapper que apoia publicamente Trump: "He is what happens to negroes when they don't read." (16)
Nem sei se vale a pena fazer notar que esta é, na forma e na substância, uma das acusações mais profundamente racistas que podem ser feitas a alguém, na medida em que implica, por exemplo, que um negro que não lê tem que ser um imbecil - por oposição a um outro ser humano de outra raça qualquer, que apesar de não ler, não será tão imbecil assim.
É, porém, bastante óbvio que o insano clima de confronto que se vive do outro lado do Atlântico não é da exclusiva responsabilidade da esquerda. Trump, com as suas declarações boçais e os seus tweets tão virulentos como desnecessários, não ajuda nada. E os micro-organismos de atavismo racista e de extrema direita, sem bem que esporádicos, não deixam de se manifestar, apesar de serem tratados com um nojo pela imprensa mainstream que é completamente diferente da usual legitimação que é proporcionada a movimentos radicais de sentido ideológico oposto, como a Antifa, por exemplo.
De qualquer forma, a direita americana não parece, de uma maneira geral, tão virulenta como a esquerda. Muito por uma razão óbvia: a população civil de direita está armada. Principalmente no interior e no sul do continente, onde a posse de armas faz parte integrante da cultura e do costume da república. E a eloquência das armas não precisa de slogans, nem de comícios, nem de conferências de imprensa, nem de loops noticiosos, nem de redes sociais.
Dennis Prager, o eminente fundador da PragerU, afirma, numa das citações com que iniciei este texto, que a segunda guerra civil americana já começou (17). Mas argumenta também que se trata de uma guerra cultural e não bélica. Vamos esperar que assim se mantenha. Por muito feia que seja, é preferível à outra. Com milhões de mortos nas trincheiras das ideologias radicais.
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(1) - The Terrifying Story of the Congressional Baseball Shooting - The Washingtonian
(2) - Beyond the rudeness of current political discourse - The Washington Times
(3) - Bringing a gun to a knife fight - Snopes fact Checker
(4) - Actress Lea DeLaria says she wants to 'take out' Trump supporters with baseball bat - Fox News
(5) - Controversial photo of Kathy Griffin holding a fake severed head of Donald Trump - The Mail Online
(6) - Maxine Waters Tells Supporters to Confront Trump Officials - Time Magazine
(7) - The list of Trump White House officials who have been hassled over administration policy - USA Today
(8) - Sen. Cory Booker Pleads for Supporters to 'Get Up in the Face of Congresspeople - Fox News
(9) - Castro Valley man allegedly cursed Trump, tried to stab GOP congressional candidate - San Francisco Chronicle
(10) - Susan Rice's Republican son assaulted at Kavanaugh rally - The Washington Times
(11) - Kavanaugh protestor: “I’d shoot that motherfucker in the face. Trump too" - Bre Payton Twitter page
(12) - 'I sleep with a loaded gun': Rand Paul's wife afraid of 'unhinged' people goaded by Democrats - RT
(13) - Police boost security, escort Sen. Collins at Capitol - Portland Press Herald
(14) - The American Revolution begins - The History Channel
(15) - Leaked Google research shows company grappling with censorship and free speech - The Verge
(16) - CNN Panel: ‘Kanye West Is What Happens When Negroes Don’t Read,’ -Accuracy in Media
(17) - America’s Second Civil War . The Dennis Prager Show