sexta-feira, outubro 12, 2018

Nas trincheiras da Segunda Guerra Civil Americana.


"The answer to Donald Trump, you may say, is to do just the opposite of Donald Trump. Being noble, being kind, being classy. But I believe that we must honestly ask ourselves as a party whether those we fight for can afford our gentleness."

Michael Avenatti (D)


 “You cannot be civil with a political party that wants to destroy what you stand for, what you care about. That’s why I believe, if we are fortunate enough to win back the House and/or the Senate, that’s when civility can start again.”

Hillary Clinton  (D)


"It is time for our society to acknowledge a sad truth: America is currently fighting its second Civil War."

Dennis Prager (R)


A 14 de junho de 2017, em Alexandria, Virgínia, um destacado congressista republicano, Steve Scalise, foi baleado enquanto treinava para o Jogo Anual de Baseball do Congresso, um evento de filantropia republicano, programado para o dia seguinte. Crystal Griner, um oficial da Polícia do Capitólio dos EUA designado para proteger Scalise; Zack Barth, assessor do Congresso; e Matt Mika, um lobista da Tyson Foods foram também baleados. O tiroteio entre o atirador - James Hodgkinson, um ativista de esquerda - e agentes da Polícia do Capitólio e de Alexandria durou dez minutos. Hodgkinson acabou por ser atingido e morreu desses ferimentos no mesmo dia, no Hospital da Universidade George Washington. O Procurador Geral da Virgínia concluiu que Hodgkinson planeava o assassinato em massa de todos os republicanos que lhe surgissem pela frente. (1)

Este episódio de terrorismo puro e duro foi, tipicamente, muito pouco noticiado, até nos Estados Unidos. Mas é talvez o mais eloquente sobre o barril de pólvora em que assenta, periclitante, a república americana dos dias perigosos que correm.

Mas há mais. Há muito mais fogo cerrado nas trincheiras do combate político contemporâneo, nos Estados Unidos. E a verdade é que a polarização ideológica e cultural a que assistimos hoje na sociedade americana só tem precedentes históricos no período preliminar à guerra da Secessão. Mesmo comparada com a crise de identidade que a nação viveu entre 1965 e o inícios dos anos 70, com a guerra do Vietname a ser travada substancialmente na frente doméstica, a actual radicalização de conteúdos e retóricas partidárias (que tem origem no ataque às Torres Gémeas de 2001, nos decorrentes conflitos bélicos espoletados pela Administração Bush e pela consequente eleição de um marxista para a presidência) só tem paralelo na belicosa divergência entre os estados confederados e o governo central da primeira metade do século XIX.

Nos últimos 15 anos, a esquerda americana perdeu a sua tradição liberal e o Partido Democrata europeizou-se, no pior sentido do termo, sendo hoje, em termos ideológicos e culturais, um grande e heterogéneo Bloco de Esquerda. Esse shift dos democratas para a esquerda, deixou um espaço eleitoral livre e acessível ao centro, que o Partido Republicano prontamente - e precipitadamente - ocupou. Tornando o seu discurso mais secular, aceitando em boa parte o colete de forças do politicamente correcto e permitindo a ratificação sucessiva de legislação que colide contra os valores do conservadorismo cristão do núcleo duro - e crítico - do seu eleitorado natural, os republicanos não ganharam ao centro o que perderam à direita. O primeiro sinal deste desacerto estratégico surgiu com o Tea Party. A confirmação da catástrofe aconteceu com a eleição de Donald Trump.

O resultado de tudo isto é uma espécie de tempestade perfeita.

Considera, gentil leitor, a atual liderança do Partido Democrata. O presidente Tom Perez é um radical que encorajou abertamente a recente vaga de protestos violentos, interpretada por turbas que envergonham os mais niilistas dos activistas europeus. O vice-presidente é um declarado e notório anti-semita, Keith Ellison, conhecido pela tristemente célebre afirmação de que a Constituição dos EUA é a “melhor evidência de uma conspiração racista branca para subjugar outros povos”. (2)

Um e outro foram grandes apoiantes de Barak Obama, que, em 2008, disse num comício, a propósito dos seus adversários políticos à direita: If they bring a knife to the fight, we bring a gun." (3)

Encorajados pela cúpulas do partido, os apparatchiks têm vindo, progressivamente e de forma assustadora, a subir a parada da hostilidade semântica e a intensificar os apelos à violência física. Dou apenas alguns exemplos, porque existem na verdade centenas deles.


- Em novembro de 2016, a actriz Lea Delaria não conseguia esconder o seu desejo quizilento (é dizer pouco) quando tweetou, sugerindo uma alternativa à violência da palavra escrita: "or pick up a baseball bat and take out every fucking republican and independent I see". (4)

- Em setembro de 2017, a comediante Kathy Griffin posou para o fotógrafo Tyler Shields segurando uma maquete da cabeça decepada de Trump. O fotógrafo vendeu a foto por 150 mil dólares. (5)


- Em declarações à CNN, no início de maio deste ano, Laurence Tribe, professor de Direito de Harvard, disse sobre o possível impeachment de Trump: "If you’re going to shoot him, you have to shoot to kill.

    
- Em junho, a senadora Maxine Waters, da Califórnia, incentivou os seus partidários a assediar funcionários do governo Trump, sempre que os encontrassem em espaço público, informando esses funcionários da seguinte forma: "you're no longer welcome, anywhere". (6) 
Da teoria à prática não passou muito tempo. Sarah Sanders (secretária de imprensa da Casa Branca), Kirstjen Nielsen (secretária do Departamento de Segurança Interna) e Ted Cruz (senador republicano) foram expulsos de restaurantes, a propósito das suas convicções políticas e dos cargos que ocupam. (7)

- Em julho, o senador Cory Booker, presumivelmente um futuro candidato à presidência - encorajou activistas a seguirem um comportamento que é, no mímino, discutível em democracia: "Get up in the face of congresspeople."(8)

- Em Setembro, Farzad Fazeli foi preso depois de tentar esfaquear um candidato republicano ao Congresso, num festival de outono em Castro Valley, Califórnia. Antes da tentativa de agressão, Fazeli gritou obscenidades sobre o presidente Trump, o Partido Republicano e as autoridades eleitas. (9) 

- No domingo passado, na ressaca da tomada de posse do Juíz Kavanaugh, o procurador-geral da era Obama, Eric Holder, reforçou o tom agressivo e irresponsável que se está a tornar o novo normal da esquerda. Falando num evento de campanha na Geórgia, disse isto sobre os republicanos: “When They Go Low, We Kick Them". Confere esobre o estadte momento no vídeo em baixo, paciente leitor, e repara na reacção da audiência a esta inflamatória afirmação, que diz muito so de espírito instalado nas hostes democratas.



- Na segunda-feira, Hillary falou na impossbilidade de tratar o Partido Republicano de forma civilizada (post sobre o assunto aqui).

- Esta semana, o líder estudantil republicano John David Rice-Cameron foi agredido por activistas de esquerda quando tentava proferir um discurso em favor de Kavanaugh, na universidade de Standford. Ironicamente Rice-Cameron é filho da Conselheira de Segurança de Obama - Susan Rice. (10)


O tom belicista é hoje um componente formal do discurso democrata. Bre Payton, repórter do The Federalist, captou imagens de activistas à porta do Supremo Tribunal americano que gritavam “I’d shoot that motherfucker Kavanaugh in the face. Trump too” (11). A violência verbal tem gerado o caos e um sentimento de insegurança que não pode ser mais perigoso do que já é. Kelley Paul, a mulher do senador republicano Rand Paul, afirmou recentemente que dorme com uma arma carregada debaixo da almofada, como precaução contra "pessoas desiquilibradas" que são incitadas pelos democratas a assediar os legisladores republicanos (12) E Susan Collins, a corajosa senadora republicana do Maine, cujo voto permitiu a Kavanaugh a confirmação como juiz do Supremo, tem neste momento uma escolta de segurança que a acompanha nas suas actividades profissionais e pessoais, tanto em Washington como no estado que representa (13).

Um relatório completo e em constante actualização dos actos de violência e intimidação perpetrados contra republicanos e apoiantes de Trump - e sancionados pela imprensa - pode ser encontrado aqui.
A soma vai em 594 registos. Este relatório inclui 101 incidentes violentos contra seres humanos (incluindo crianças) e 43 episódios de vandalismo, destruição de propriedade e incêndios criminosos.
Se seguirmos o princípio normativo de Murphy, o mais provável é que um evento deste tipo, num futuro mais próximo do que julgas, pacífico leitor, desencadeie um conflito armado de largas proporções. Lembro que a guerra da independência americana começou oficialmente com um tiro apenas, disparado acidentalmente por um artilheiro do exército inglês. (14)


Enquanto isto, a Google entretém-se com briefings internos que evangelizam a "boa censura", explicando aos seus quadros que, devido a uma variedade de fatores, incluindo a eleição do presidente Trump, a tradição americana de liberdade de expressão na internet é inviável (15). A não ser, claro, que essa liberdade de expressão seja interpretada pelas turbas radicais de esquerda cujas acções de vandalismo e intimidação apenas cumprem um "direito constitucional", de acordo com a CNN. Num recente painel desta estação de propaganda da nova esquerda americana, alguém manifestou esta simpática opinião sobre Kanye West, um rapper que apoia publicamente Trump: "He is what happens to negroes when they don't read." (16)

Nem sei se vale a pena fazer notar que esta é, na forma e na substância, uma das acusações mais profundamente racistas que podem ser feitas a alguém, na medida em que implica, por exemplo, que um negro que não lê tem que ser um imbecil - por oposição a um outro ser humano de outra raça qualquer, que apesar de não ler, não será tão imbecil assim.

É, porém, bastante óbvio que o insano clima de confronto que se vive do outro lado do Atlântico não é da exclusiva responsabilidade da esquerda. Trump, com as suas declarações boçais e os seus tweets tão virulentos como desnecessários, não ajuda nada. E os micro-organismos de atavismo racista e de extrema direita, sem bem que esporádicos, não deixam de se manifestar, apesar de serem tratados com um nojo pela imprensa mainstream que é completamente diferente da usual legitimação que é proporcionada a movimentos radicais de sentido ideológico oposto, como a Antifa, por exemplo. 

De qualquer forma, a direita americana não parece, de uma maneira geral, tão virulenta como a esquerda. Muito por uma razão óbvia: a população civil de direita está armada. Principalmente no interior e no sul do continente, onde a posse de armas faz parte integrante da cultura e do costume da república. E a eloquência das armas não precisa de slogans, nem de comícios, nem de conferências de imprensa, nem de loops noticiosos, nem de redes sociais.

Dennis Prager, o eminente fundador da PragerU, afirma, numa das citações com que iniciei este texto, que a segunda guerra civil americana já começou (17). Mas argumenta também que se trata de uma guerra cultural e não bélica. Vamos esperar que assim se mantenha. Por muito feia que seja, é preferível à outra. Com milhões de mortos nas trincheiras das ideologias radicais.

 
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(1) - The Terrifying Story of the Congressional Baseball Shooting - The Washingtonian
(2) - Beyond the rudeness of current political discourse - The Washington Times
(3) - Bringing a gun to a knife fight - Snopes fact Checker
(4) - Actress Lea DeLaria says she wants to 'take out' Trump supporters with baseball bat - Fox News
(5) - Controversial photo of Kathy Griffin holding a fake severed head of Donald Trump - The Mail Online
(6) - Maxine Waters Tells Supporters to Confront Trump Officials - Time Magazine
(7) - The list of Trump White House officials who have been hassled over administration policy  - USA Today
(8) - Sen. Cory Booker Pleads for Supporters to 'Get Up in the Face of Congresspeople - Fox News
(9) - Castro Valley man allegedly cursed Trump, tried to stab GOP congressional candidate - San Francisco Chronicle
(10) - Susan Rice's Republican son assaulted at Kavanaugh rally - The Washington Times
(11) - Kavanaugh protestor: “I’d shoot that motherfucker in the face. Trump too" - Bre Payton Twitter page
(12) - 'I sleep with a loaded gun': Rand Paul's wife afraid of 'unhinged' people goaded by Democrats - RT
(13) - Police boost security, escort Sen. Collins at Capitol - Portland Press Herald
(14) - The American Revolution begins - The History Channel
(15) - Leaked Google research shows company grappling with censorship and free speech - The Verge 
(16) - CNN Panel: ‘Kanye West Is What Happens When Negroes Don’t Read,’ -Accuracy in Media
(17) - America’s Second Civil War . The Dennis Prager Show