quarta-feira, novembro 07, 2018

As eleições da divisão.

As midterm elections de hoje não constituíram nenhuma surpresa. Os republicanos ganharam no senado e no número de governadores. Como era esperado. Os democratas ganharam na House of Representatives, como era esperado. Mas a tão propagada "onda azul" não passou de uma vitória em 3 palcos possíveis. E Trump não foi de todo humilhado, não só porque a vitória no Senado é em grande parte creditada ao actual inquilino da Casa Branca, mas principalmente porque o registo histórico é inequívoco: os presidentes perdem lugares no congresso nas eleições intermédias (com a excepção de Roosevelt e G. W Bush nos seus primeiros mandatos e de Clinton no segundo),.

Há porém duas ou três notas a reter. A primeira é a de que alguns dos estados do sul, tradicionalmente republicanos, que têm nas últimas décadas registado uma aumento massivo da população imigrante, estão a virar à esquerda e, como Carlson Tucker muito assertivamente afirmou num vídeo da PragerU que aqui postei recentemente, essa é a razão decisiva para que os democratas sejam hoje em dia grandes críticos do reforço das fronteiras (quando defendiam o operariado americano, não pensavam assim e isto não foi há muito tempo atrás).

Apesar de tudo, a vitória de Ted Cruz sobre a grande aposta do Partido Democrata para uma vitória no estado do Texas - Beto O'Rourke -  não deixa de ser eloquente sobre a força que Trump, que batalhou imenso pela reeleição do seu adversário nas primárias republicanas de 2016, tem e mantém no seu território natural.

Uma outra conclusão óbvia, é que vamos ter um congresso dividido entre o Senado republicano e a House of Representatives democrata e aflitinha por correr com Trump da Casa Branca. O resultado desta divisão, bem como das diferenças marginais no número de assentos nas duas câmaras - que espelham bem a fractura exposta da actual sociedade americana - é que vai ser muito complicado legislar nos próximos dois anos. Quando eu digo complicado, digo praticamente impossível. Até porque na casa que agora dominam, os democratas vão levantar rapidamente um mandato de investigação e não de legislação. Poderão deixar passar iniciativas de natureza executiva relacionadas com infra-estrutura, mas estarão muito mais interessados em levantar uma miríade multidimensional de inquéritos, audiências e processos judiciais-barra-mediáticos que lhes permitam comprometer definitivamente a legitimidade do Presidente, consubstanciando e legitimando a planeada acção de impeachment que é quase garantida, independentemente do que podemos especular sobre o seu sucesso.










































































































É também importante reter que a maioria republicana no Senado vai provavelmente permitir a nomeação de pelo menos mais um juiz para o Supremo Tribunal, o que é, sem dúvida, um facto relevante, quando pensamos na doutrina constitucional a médio e longo prazo.

Por último, o resultado na câmara baixa do Congresso não deixa de ser uma derrota do Partido Republicano, que não conseguiu capitalizar a boa forma económica da nação, a baixa recordista no desemprego e a esquizofrenia profundamente anti-americana da esquerda radical, perdendo assim, parvamente, a câmara mais representativa do Congresso. Mas os dislates da direita institucional americana - e a sua incapacidade operacional - não são de agora e têm vindo a comprometer seriamente a integridade ideológica da federação. Acontece que nos tempos que correm, perigosos como o diabo, convinha uma subida dos níveis de competência, conveniência essa que não  se verificou de todo. Na verdade, o establishment republicano entregou-se, muito rápida e surpreendentemente, à retórica e à praxis de Donald Trump, de que depende agora de forma constrangedora.

Isto vai de mal a pior.