terça-feira, novembro 13, 2018

Nacionalismo, patriotismo e outros sinónimos da civilização que Macron não entende.



Pour le Roi, souvent. - Pour la Patrie, toujours.
Jean Baptiste Colbert


Outra das recentes, intempestivas e bizarras afirmações públicas de  Emmanuel Macron foi a de que patriotismo é o exacto oposto de nacionalismo, e que o nacionalismo é algo de draconiano e civilizacionalmente explosivo. Esta tese, claramente dirigida a Donald Trump, que num comício das midterm elections se declarou nacionalista, merece uma análise crítica:

a) Os termos nacionalismo e patriotismo significam exactamente a mesma coisa, até no progresssista diccionário do Google.  Aconteceu sim que o termo Nacionalismo foi encostado a um certo modo de ser patriota: o fascista. Mas isso não quer dizer nada. O socialismo também já foi nacional fascista, com Hitler. O comunismo foi internacional fascista com Lenine e nacional fascista com Estaline. A democracia cristã deu em fascismo de extermínio nos balcãs. E a social democracia numa espécie de social comunismo, a certa altura da história recente dos países do norte da Europa.

b) A globalização liberal e humanista, a revolução transnacionalista que é oposta ao perigoso nacionalismo de que fala Macron, é interpretada pela China e pela Rússia, por exemplo, como uma forma de reforçar o nacionalismo que preside à filosofia e à praxis dos respectivos regimes. Não há hoje no mapa geo-político país mais nacionalista que a Rússia, como é óbvio, mas Macron está estranha e principalmente preocupado com o nacionalismo de Tump.

c) Macron não deve saber muito da história do seu próprio país, caso contrário tinha sido mais cauteloso. Todo o glorioso iluminismo francês é fundado e subsidiado pela economia de Colbert, que é radicalmente mercantilista, logo protectora dogmática dos interesses nacionais.

d) Ao contrário do que indicam os receios do presidente francês, o nacionalismo tem sido uma poderosa força civilizacional que tem actuado com sucesso contra uma força bárbara e essa sim perigosíssima: o tribalismo.

e) Aliás, as nações do mundo foram criadas na sua generalidade por duas ordens de razões: a primeira, para determinar território tributável que alimentasse a lógica imperialista das monarquias. A segunda, para efectivamente separar povos distintos, respeitando a natural tendência repulsiva entre culturas diferentes que é própria da condição humana e reduzindo a predisposição para o conflito. A invenção e constituição das nações - grupos coerentes de povos que partilham, num determinado perímetro geográfico, a mesma história, a mesma língua, a mesma cultura, a mesma religião e uma plataforma genética comum - constitui a mais bem sucedida solução para o problema tribal e tem sido assim uma força efectiva de ordem sobre o caos.

f) A República a que Macron desastradamente preside é um país com uma grande e rica história de nacionalismos. De Luís XIV a De Gaulle, de Robespierre a Miterrand, de Carlos Magno a Napoleão, todos decerto concordariam que um dos princípios fundamentais do exercício do poder político em França é o da defesa dos interesses dos franceses. E defender os interesses dos franceses foi muito frequentemente defendê-los contra alguém. Contra outras nações, como a Inglaterra, a Alemanha, a Prússia ou a Itália. Mas também contra ameaças internacionalistas de foro interno, como os huguenotes, os habsburgos, os jacobinos, os judeus ou os colaboracionistas.

Emmanuel Macron perdeu assim uma excelente, uma solene ocasião para estar calado. Até porque, aqui entre nós, um presidente que diz publicamente aos eleitores franceses que não é um nacionalista, arrisca-se a ser chumbado forte e feio, da próxima vez que for a eleições.