As 48 Leis do Poder . Robert Greene e Jost Elfers . Escolar Editora
Este livro lindíssimo, com um trabalho de tipografia notável, foi-me oferecido por um querido amigo e devorado num instante. São 3000 anos da história do poder em 500 belas páginas de erudição, pragmatismo e boa ciência política. Leis como "finja ser amigo, aja como espião" ou como "despreze o que vier de graça" parecem cínicas e excessivamente draconianas, mas estão todas muito bem fundamentadas pela lógica, pela história e por um anedotário que é eloquente e muito divertido.
Uma edição de luxo de uma pequena editora cuja leitura recomendo vivamente.
Purity . Jonathan Franzen . D. Quixote
Este romance de Jonhnatan Frazen é tão fraquinho e desinteressante que ilustra bem o meu pessimismo em relação à ficção contemporânea. Leio cada vez menos romances porque os rmances que se escrevem hoje em dia são, em 95% dos casos, como este aqui: dispensáveis.
Conde Belissário . Robert Graves . Estúdios Cor
A propósito de novelas contemporâneas que não prestam para nada, eis um maravilhoso romance histórico publicado em 1938 de um grande romancista, poeta e ensaísta irlandês, autor crónico de obras primas de que o célebre "Eu, Cláudio" será o melhor exemplo. O livro, que descobri recentemente na cave a ganhar bolor, conta a história do General Belissário, lendário conquistador do império romano do oriente e súbdito do imperador bizantino Justiniano. Trata-se de excelente literatura e a excelente literatura tem, pelo menos, uma coisa boa: dá um enorme prazer ao leitor.
A Cartuxa de Parma . Stendhal . Estúdios Cor
Apesar de ser um apaixonado por "O Vermelho e o Negro", que já li 3 vezes, nunca até aqui tinha lido esta outra obra prima de Stendhal. Por uma razão ou por outra, não me deu este clássico tanto prazer como o outro. Mas a história de amor e traição protagonizada por Fabricio del Dongo e Sanseverina não deixa de ser arrebatadora. Stendhal não sabia fazer nada que não fosse grande literatura.
Stoner . John Williams. D. Quixote
Esta novela aqui, que segundo o New Yorker é "o melhor romance americano de que nunca ouvimos falar", foi originalmente publicada em 1965, mas só agora está a ser mais publicada e conhecida. Vá-se lá saber porquê: trata-se de um belo, embora soturno, manifesto existencialista que retrata a vida de um obscuro professor de literatura do midwest americano. Gostei imenso, por acaso.
Quinhentos Poemas Chineses . Coordenação de António Graça de Abreu e Carlos Morais José . Vega
A propósito desta livro, já postei aqui
no blog algumas notas. Vale a pena dizer que esta edição da Vega foi
importante para a minha descoberta da poesia chinesa, que deveras
aprecio. Isto apesar de ninguém que não domina a língua dos mandarins
poder realmente compreender a sua literatura. Qualquer tradução para
português será sempre uma versão e não uma tradução, porque os chineses
não têm alfabeto, mas sim uma escrita fundada em ícones (lologramas) que
podem encerrar vários vocábulos e vários significados. Além disso, um
poeta do período clássico chinês teria também que ser um mestre das
artes gráficas, sendo que a componente visual dos poemas chineses, que
também cumpre uma espécie de métrica, não tem expressão possível nos
idiomas ocidentais. Voltarei a este assunto quando falar de um livro de
poemas do grande Li Bai, que estou a ler agora.
Seja como for,
quem gosta de poesia deve comprar este livro e lê-lo. Abre-se aqui uma
janela para a infindável beleza da literatura oriental.
12 rules For Life - An Antidote to Chaos . Jordan B. Peterson . Allen Lane
Como não tive paciência para esperar pela edição portuguesa, mandei vir a versão original deste brilhante manual de sobrevivência, cuja recensão nã é necessária, já que tenho escrito, nos últimos meses, bastante sobre este livro. Se calhar o texto mais pertinente dos que postei, é este aqui, que foi escrito a propósito da visita do mestre a Portugal, precisamente com o objectivo de lançar este livro.
O império Imóvel ou o Choque dos Mundos . Alain Peyrefite . Gradiva
Um calhamaço de história como deve ser, esta odisseia da primeira embaixada britânica no Império do Meio é absolutamente fascinante. É a história de um fracasso tremendo, claro. Ingleses e chineses recusam entender-se. Esforçam-se até por se desentenderem. Do protocolo à geo-estratégia, há um mundo que os divide. O livro está magnificamente escrito, é extremamente fiel às fontes históricas e leva-nos por um percurso rocambolesco de equívocos e glórias, cumprido por homens que nem sempre tinham consciência do que estava em causa, mas que tinham claras ideias de dever, de honra e de sentido de estado. Homens que já não encontramos hoje. Histórias que já não acontecem.
Este livro de Peyrefite fica para mim como uma obra de referência, no contexto da disciplina da História. Mas também como uma lição de vida: os chineses recusaram as pretensões do esforço diplomático dos ingleses porque não conseguiram simplesmente imaginar que uma nação bárbara e tão mais insignificante na escala geográfica, demográfica e ontológica das coisas, pudesse realmente representar uma ameaça. Décadas mais tarde, aprenderam não pela diplomacia, mas pela eficácia dos canhões, que um império imóvel não tem grandeza. E foram humilhados por uma só frota britânica. Desse erro, velho de 230 anos, só agora estão a recuperar.