Enquanto a CNN recolhe, em pleno prime time, não mais que 100.000 aborrecidos espectadores de entre os potenciais 500 milhões de americanos (0,06% do mercado), PewDiePie contabiliza cerca de 3 a 4 milhões de visualizações por vídeo. E Tim Pool, o pundit independente que tem 3 canais de comentário político e reportagem jornalística no Youtube, compete directamente com as audiências da gigante MSNBC.
É preciso fazer notar que o orçamento diário de operação de Tim Pool ou de Felix Kjellberg não deve exceder os cinco mil dólares, enquanto os análogos custos quotidianos das grandes operadoras mainstream superam as dezenas de milhões de dólares. E estou a pegar apenas em dois exemplos de youtubers bem sucedidos, mas podia trazer à conversa centenas de outros jornalistas, comentadores políticos, enterteiners e criadores com vastas audiências nas redes sociais. Não quero estar sempre a carregar na mesma tecla, mas basta ir até ao canal do Jordan Peterson para percebermos que até um filósofo tagarela consegue ter mais audiências que o desgraçado do Anderson Cooper. Só o épico conjunto de palestras de Peterson sobre a bíblia apresenta muitos milhões de visualizações.
No combate pela supremacia dos meios convencionais via cabo, a conservadora Fox News arrasa com a concorrência never trump, somando invariavelmente mais do dobro das audiências da CNN e da MSNBC juntas. Mas números ainda mais impressionantes são os dos jornais online: as publicações conservadoras esmagam completamente os títulos liberais, numa demonstração de que há muita gente de esquerda a consumir conteúdo político à direita, embora na verdade este facto seja claramente contraintuitivo.
O que este quadro não diz é que a esquerda tem os seus públicos divididos por um número maior de publicações liberais, mas ainda assim, é bem visível que a linha editorial conservadora parece resultar para os dois lados do espectro político, enquanto o mesmo não se passa nas redacções progressistas, que teimando na filosofia de guerra aberta e insana à actual presidência, vão desertificando os seus shares.
O próprio Tim Pool explica e documenta isto tudo muito bem, neste vídeo aqui:
Em Portugal, uma consultora descobriu recentemente que a SIC transmitia para zero espectadores, num determinado minuto da programação da tarde. Numa boa noite (em que outros canais não passem futebol ou guerras de tronos), o pomposo Rodrigo Guedes de Carvalho declama pomposamente o texto que ele acha que é de carácter noticioso (não é) para 50.000 pessoas em Portugal, se excluirmos cafés e tascas e centros comerciais e barbearias e cabeleireiros e centros comerciais (0,5% do mercado total). Desses 50.000, especulo que menos de 20.000 audientes estejam na chave demográfica entre os 25 e os 55 anos. Considerando ainda que, ao contrário das plataformas web, a televisão implica baixos índices de foco na mensagem e pode estar ligada horas sem que ninguém esteja a olhar para ela, o Rodrigo Guedes de Carvalho está praticamente a falar sozinho.
Na segunda década deste século, observamos um shift mediático que vai
ser lembrado nos livros de história. No formato actual, a televisão está
no seu fim. Já ninguém vê. Mas os seus actores de sempre continuam a fingir que são vistos e que são relevantes, num deprimente exercício de negação. Talvez por isso, mas não só por isso, esta revolucionária migração das audiências é muito pouco falada. Há um silêncio oficial sobre o assunto, um manto de vergonha e espanto: uma morte não anunciada.