quarta-feira, maio 22, 2019

Sobre a complicação da palavra "parabéns" e da gratidão que provoca.

Sou um gajo completamente aéreo e até algo diletante, de tal forma que me esqueço frequentemente dos aniversários das pessoas que amo. Por isso, e por uma multitude de outras razões, fico invariavelmente constrangido quando recebo parabéns. Sejam os parabéns porque faço anos ou os parabéns porque ganhei uma campanha ou os parabéns porque fui, por uma vez, uma pessoa como deve ser ou os parabéns porque tive muita sorte com a mãe que me pariu e educou ou em ser escolhido pela mulher com que sou casado ou pela sobrinha que fica arrepiada com as minhas opiniões políticas, mas que sabe bem que tem um tio à séria até que ele morra, ou pelos amigos que têm paciência para me aturar (fui abençoado com alguns muitos). Pode parecer falsa modéstia - ou simetricamente uma presunção - mas dentro de mim há sempre um aviso de letras vermelhas que diz: "não tens que receber parabéns. Ainda não te mostraste digno de seres celebrado". E aos 52 anos, o aviso continua, teimoso e certo, a bombar loucamente nos meus tímpanos de razão pura.
Ainda assim, tenho que agradecer a todos os que se lembraram do dia remoto em que nasci (mesmo que tenha sido o Facebook a lembrar-se, porque tiveram a gentil diligência do recado - coisa que amiúde me falha).
Tenho que agradecer também ao José Luis Tamissa pelo carinho com que sempre me recebe, onde quer que esteja a trabalhar e, claro, ao grande senhor Américo Vinagre e a toda a gente no Derby Restaurante Bar: aceitem todos um abraço apertado, afectuoso e humilde de um amigo que, sendo aparentemente alienado, pretende cumprir a vida com lealdade e gratidão.
Hoje fui objecto de uma quantidade enorme de carinhos que nem sei, na verdade, se mereço. Muito e muito obrigado, malta.