quinta-feira, junho 20, 2019

Pela Estrada Fora #21


Não sou propriamente um tipo viajado, pelo contrário, mas tenho a certeza religiosa que não há no planeta um lugar mais poético que Guerreiros do Rio. A aldeia propriamente dita tanto como os arredores ribeirinhos rebentam de versos imortais. Nem consigo explicar o que acontece comigo quando chego a este sítio. O Guadiana entra-me na corrente sanguínea como um opiáceo e fico completamente drogado, a olhar para a majestade lírica daquilo. Felicidade é parar cinco minutos neste apoteótico miradouro e ficar simplesmente a olhar para a majestade lírica daquilo.


E é pela EM 507, que liga a Foz de Odeleite a Alcoutim, que lá se chega. Uma estrada sinuosa e tecnicamente exigente, que se esforça sem total sucesso por perseguir o fluído curso navegável do Guadiana. Acelero um bocadinho, claro, mas aqui e ali há um ou outro buraco partidor de jantes e estou demasiado extasiado para me concentrar completamente na condução.

Não se houve mais que a carícia da água nos canaviais e o GTI a rosnar. Ninguém habita este bocadinho de paraíso. Não há turistas e os escassos nativos não se aborrecem pelas curvas que conhecem de cor. Estou sozinho no sonho, sozinho no mundo. No lugar mais poético da galáxia.


Portugal ainda tem muita estrada sem semáforos. Muitos quilómetros sem trânsito. Muito espaço para estacionar. Muitos caminhos para testar o modo Sport. Muito silêncio para rasgar com o barulho da combustão interna. Muita liberdade para tirar prazer da condução, da paisagem, da vida.