sexta-feira, janeiro 24, 2020

Uma tirania do sono.


As regras procedimentais para o tribunal de Impeachment no Senado americano são um bocadinho draconianas. Por um lado, os senadores são obrigados a presenciar na íntegra todas as sessões, que podem durar 16 horas por dia, e por outro, não podem beber café. Sim, é verdade, não podem beber café. Estão condenados à água ou ao leite.

A coisa torna-se realmente insustentável quando Adam Schiff, o orador de serviço pelo lado democrata, descarrega sobre a sonolenta assembleia entediantes, repetitivos e alucinados discursos de 3 e 4 horas por unidade. O congressista é conhecido mais por ser um mentiroso descarado do que um tribuno eloquente, mas mesmo apesar de repetir loucamente as mais inacreditáveis e delirantes acusações sem apresentar qualquer vestígio de evidência factual (O actual presidente dos Estados Unidos da América é um agente russo, o líder da maioria republicana no Senado é um agente russo, a Rússia está prestes a invadir os Estados Unidos e toda a gente que não votar a destituição de Trump é um traidor à pátria, só para atirar assim à pressa alguns lunáticos exemplos), a verdade é que o esforçado senhor não consegue evitar que se instale no Senado uma espécie de tirania do sono.


O processo de impeachment, que antes de transitar para o senado já tinha sido um aborrecimento monumental no Congresso, parece afectar os senadores com uma mistura de  LSD e drunfos: os democratas entretêm-se com ficções de carácter psicadélico enquanto os republicanos ressonam abundantemente. No entretanto, as audiências descem a pique. Apesar das cadeias televisivas de largo espectro mediático estarem a transmitir esta estupada (a CBS já desistiu e substituiu as intermináveis sessões plenárias por telenovelas), ninguém na verdade está a seguir o sedativo processo.



A razão do desinteresse do público americano pelo fastidioso e interminável julgamento está na previsibilidade do seu desfecho: toda a gente sabe que o Senado, de maioria republicana, nunca irá destituir um presidente republicano sem provas concretas de acto criminoso, mesmo tratando-se de Donald Trump, que não tem assim tantos amigos no partido pelo qual foi eleito; e toda a gente sabe que este processo é acima de tudo político e que não há qualquer razão formal ou legal ou até moral para destituir o actual inquilino da Casa Branca.
E assim sendo, os eleitores evitam a maçada e os senadores aproveitam para por o sono em dia. É a democracia a funcionar.