"A pressão normalizadora que existe (sobre o Covid-19) é absolutamente dantesca".
André Dias . 11/04/20
Por esta altura já muita gente conhece a entrevista que André Dias, o
jovem doutorado em Modelação de Doenças Pulmonares pela Universidade de
Tromso, na Noruega, concedeu à QI News, sobre o Covid-19 e as medidas de
quarentena que estão a ser implementadas por todo o mundo, pelo que não
estou a dar novidade nenhuma.
É importante frisar que André Dias não é um epidemiologista, embora a sua área de doutoramento lhe tenha proporcionado vários anos de conhecimento teórico e prático nesta disciplina. Pelo que consegui perceber, a sua área de especialização relaciona-se com ciências computacionais ligadas à investigação médica. Não tenho capacidade intelectual nem técnica para dar conta do rigor científico de tudo o que ele diz, obviamente, mas há nesta entrevista de uma hora muito conteúdo que deve ser discutido.
Aliás, uma das questões que é mais preocupante neste intenso testemunho é a constatação que há muito pouca latitude para que os cientistas que discordam da opinião dominante possam expor os seus pontos de vista, mesmo que errados (a ciência progride com o erro). André Dias está visivelmente nervoso e parece até emocionalmente afectado durante toda a duração do vídeo, porque desde que publicou um artigo discordante da narrativa oficial, no jornal ECO, foi aviltado pessoalmente, insultado profissionalmente e ameaçado de todas as maneiras. No processo de fazer pública a sua opinião técnica perdeu amigos e a solidariedade dos colegas.
Ora, isto não faz qualquer sentido até porque, como se observa mais à frente na entrevista e é hoje já bem nítido para quem estiver a prestar atenção e souber pensar pela própria cabeça, o André está longe de ser, no panorama nacional ou internacional, o único a questionar todo o processo que levou ao lockdown global.
O facto do Covid-19 ceifar a vida de milhares e de milhares de pessoas, não obriga a sociedade a um silêncio uníssono. Pelo contrário: é precisamente pela sua gravidade que deve ser discutido, porque não há razão política, sem contraditório. Nem conhecimento objectivo, sem dialéctica. Pelo menos dentro dos cânones do direito público e da metodologia científica do Ocidente, de que somos herdeiros e que devemos honrar.
E muitos dos factos, bem como as fontes que o cientista português enuncia merecem pelo menos que a sua voz seja ouvida e que meditemos sobre este assunto. É que há uma forte possibilidade de não termos lidado com este vírus da melhor maneira. E mesmo que essa possibilidade possa ser posta de parte, vale a pena discutir as razões do erro. Para referência futura.
Recomendo, claro, a quem ainda não viu a entrevista, que a veja. Mas não posso deixar de destacar alguns pontos essenciais nela expressos, a saber:
0'12'' - Logo a abrir, o argumento para mim mais convincente de que o Covid-19 não tem a implicação na mortalidade que foi inicialmente projectada, nem pouco mais ou menos. No gráfico em baixo, vemos as curvas de mortalidade em vários países da Europa desde a primeira semana de 2016 à décima de 2020. Notamos logo que a mortalidade deste ano não está a sair da média de outros anos. A gripe está a matar menos do que em anos anteriores, mas o índice é normalizado pelo pico de óbitos resultantes do C-19. O saldo, porém, parece ser neutro.
Fonte: Euromomo.eu
Em Portugal, os dados de mortalidade em tempo real também estão disponíveis no site do ministério da Saúde. E também aqui, percebemos que a curva deste ano (a negro) está completamente dentro da média, desde 2009.
O André fala de um terrível dia, 2 de Janeiro de 2017, em que um especialmente mortífero vírus da gripe matou 217 pessoas. Cerca de metade das que morreram de C-19 até agora, só em 24 horas. Não encontrei maneira de confirmar isto, mas o Público noticiou em Outubro desse ano 4500 óbitos decorrentes do virús da influenza, em Portugal.
Acresce que a média etária das pessoas que foram vitimadas pelo C-19 é, se bem que ligeiramente, superior à esperança média de vida no nosso país.
Fonte: Ministério da Saúde
Os números são estes e parecem-me pelo menos eloquentes. Cada um que tire a sua conclusão sobre se, assim sendo, a mortalidade por C-19 justifica as medidas de isolamento implementadas em todo o mundo. Que têm - elas próprias - um preço muito alto, desde a suspensão dos direitos e das liberdades constitucionais aos terríveis efeitos psicológicos do isolamento nos mais velhos e às consequências da recessão que seguramente se seguirá aos estados de quarentena.
8'36'' - A julgar pelo que aconteceu na China, as medidas de isolamento não desviaram a curva de infectados do seu desenho teórico, de distribuição normal de infecção em roda livre. Este ponto é polémico. O Professor Jorge Buescu, por exemplo, discorda desta conclusão.
15'50'' - As taxas de mortalidade que têm sido propagadas pela comunicação social e pelas autoridades sanitárias e políticas são completamente falaciosas e descem muito substancialmente a cada revisão.
18'42'' - O mecanismo pelo qual os líderes políticos optaram pelo lockdown tem muito menos a ver com a informação científica que receberam do que com a pressão social arrasadora causada pelo medo. Foi o medo - e não a razão, segundo André Dias, que levou a mudança de políticas que tinham por base sólidos dados científicos, como foi o caso do Reino Unido. (Também a partir de 22'40'')
20'45'' - O entrevistado demonstra retoricamente como os modelos matemáticos se têm mostrado falaciosos na prevenção da mortalidade do vírus.
26'50'' - André Dias apresenta algumas variáveis que podem ter contribuído para os altos níveis de incidência do C-19 em Itália (qualidade do ar no Vale do Pó, por exemplo).
44'17'' - Não subscrevendo de todo o comentário deselegante sobre Jorge Buescu, há nesta fase do discurso muita verdade: a opinião divergente tem sido de facto suprimida da comunicação social, como é caso flagrante - e deprimente - o do reputado epidemiologista e Professor Jorge Turgal que nunca concordou com o fecho das escolas mas foi silenciado logo após essas primeiras declarações.
44'52'' - A OMS usa as redes sociais para rastrear a epidemia globalmente, apesar de ter sido várias vezes informada sobre os problemas de credibilidade deste tipo de inputs, que são corrompidos por bots e pelo ruído próprio dessas redes.
49'00'' - Fechar as escolas pode ter sido um erro, impedindo que as crianças saudáveis, que não correm qualquer risco, criassem imunidade ao vírus e ajudassem a dissipar a sua presença nas sociedades. A própria OMS concorda com este argumento.
52'36" - Corremos o risco de que as medidas de isolamento matem mais pessoas, por suicídio, do que o C-19. Esta afirmação foi feita na televisão pública alemã por Gérard Krauser, epidemiologista da Helmholtz, uma reputada e gigantesca associação dedicada à investigação científica.
53'25" - O volume de testes anti-corpos que já estão disponíveis parecem apontar para o surpreendente facto de que a infecção estava já instalada nas populações muitos meses antes que as autoridades tomassem consciência da epidemia e das políticas de isolamento serem implementadas. Se tal fenómeno se confirmar, podemos retirar duas conclusões: que a eficácia das políticas de combate ao C-19 vai ser muito difícil de mensurar e que os índices de internamento e mortalidade do vírus poderão ser, afinal, residuais.