sexta-feira, maio 29, 2020

Nem imaginas a falta que fazes agora à negra madrugada.

Foste embora esta noite, em paz sedada,
mas da minha vida já tinhas saído há muito e zangada.

Levas um quilo da minha carne, lá para onde vais,
e deixas remorsos, como a maré deixa lodo no cais.

Há muitas maneiras de morrer e só uma é definitiva:
gostava de te ter dito últimas palavras enquanto eras viva.

Foste embora esta noite, em paz sedada.
Nem imaginas a falta que fazes agora à negra madrugada.

Saíste em silêncio, por mal dos meus pecados,
depois de tantos e longos anos incomunicados.

E se é verdade que os deuses amam quem cedo se retira,
que exististe o suficiente tem que ser mentira. 

Da minha vida já tinhas saído há muito e zangada.
Nem imaginas a falta que fazes agora à negra madrugada.