terça-feira, junho 02, 2020

A discoteca da minha vida: discos 21 a 25.

#21 - The B-52's - The B-52's

Temos que regressar a 1979, porque estou a ficar completamente senil e tinha-me esquecido dos espalhafatosos barra estapafúrdios e sensacionistas e dadaistas e malabaristas-acrobatas, mestres de cerimónias do mais prodigioso circo dançante no cosmos conhecido: The B-52's. Como é que um gajo se esquece desta coisa gritantemente amarela? Vou já marcar uma consulta.
O primeiro disco destes gloriosos malucos das máquinas harmónicas é uma obra prima da pop, claro, sublime elogio da lagosta, do despropósito cromático e das viagens no espaço feitas em naves de polipropileno, que só podia entrar com espampanante estrondo nesta lista sem juízo nenhum.
So let's dance this mess around, shall we?







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#22 - Love - The Cult


1985, estação das chuvas e chegaram os índios. Vestem-se como renegados de um spaghetti western, transpiram cool por todos os poros (Ian Astbury deve ser o vocalista rock com mais pinta da história universal do estilo) e apresentam à audiência mundial um palco sonoro místico e tremendamente poderoso.
Este disco aqui são tardes e tardes com amigos de liceu, a fumar cigarrinhos para rir e a ser feliz só por causa dos The Cult existirem. São noites e noites no Dois Mil, a abanar a cabeça numa variação suburbana de êxtase tribal. "Love" é uma pedra preciosa na calçada da minha vida. Um ritual oculto, performado sob uma tempestade eléctrica no deserto dos desertos. Um altar de riffs implacáveis e olímpicos, que trazem notícias dos Deuses. E os deuses estão irados como o raio.
Dez estrelas em cinco possíveis.





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#23 - Steve McQueen - Prefab Sprout

VE·LU·DO • vəˈludu
1. Substantivo masculino
Tecido de seda ou algodão, com pelo curto e macio numa das suas faces. Figurativamente: Objeto ou superfície muito macia.
2. Adjectivo
Que tem lanugem, felpudo.
Macio, meigo, manso.
Como veludo i. e. "Steve Mcqueen", o segundo álbum de estúdio dos Prefab Sprout, editado em Junho de 1985.
3. Botânica
(Celosia cristata) plural planta herbácea, da família das Amarantáceas, nativa de regiões tropicais, tem folhas lanceoladas e inflorescências densas, com flores aveludadas que podem apresentar diferentes cores.
Em Cabo Verde e na Guiné-Bissau: fruto silvestre, pequeno, castanho e muito doce.
Do baixo latim villūtu-, de villu-, «pelo»
Sinónimos: amaranto, crista-de-galo, felpudo, galocrista, lanudo, macelão, veloso, veludilho, prefab sproutiano.




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#24 - Born In The USA - Bruce Springsteen
Todos os verdadeiros fans do patrão de New Jersey vão discordar de mim, mas eu acho que "Born In The USA" é o melhor disco de Bruce Springsteen. E acho isto por um conjunto de razões muito simples: este disco é mais consistente que todos os outros (todos os temas são excelentes temas). É mais descomprometido que todos os outros (o Bruce sempre gostou de pensar que é um rocker de intervenção e às vezes isso tornava-o bastante aborrecido). É mais dançável que todos os outros ("Dancing in the Dark" é um clássico da pista de dança, e foi composto para ser isso mesmo, quer queiram quer não). Além disso, inclui a musiquinha de ninar mais erótica que Bruce alguma vez criou - ou que é possível criar, dada a intrincada combinação de referências.
Este disco faz completamente parte da minha vida, sim. E tele-transporta-me para a adolescência a uma velocidade assustadora. A música, quando atinge um certo grau de magnificência, tem esse poder sobre o espaço-tempo. E "Born In The USA" é magnificente.




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#25 - Soul Mining - The The

Não consigo escapar à primeira meia década dos anos 80. Por alguma razão será. E uma boa razão é Matt Johnson. "Soul Mining" ficará para sempre na minha memória auditiva como um estranho tango pop, revolução de concertinas avan-garde e marchas pianísticas que tentam desesperadamente acompanhar um esquema rítmico quase militar, se conseguirmos imaginar uma banda gay na parada do Regimento de Comandos da Amadora.
Soul Mining é um disco diferente de tudo, que balança loucamente entre géneros díspares, embrulhados num equilíbrio impossível e genial que dá vida própria aos tornozelos de qualquer um. Ninguém consegue rotulá-lo (a Wikipédia chama-lhe New Wave o que é um disparate de todo o tamanho). Ninguém consegue defini-lo. Ninguém consegue realmente compreender esta banda de um homem só, The The, capaz de criar o inacreditável palco sonoro para uma orgia patrocinada pelos deuses, habitada por diabos e cancelada pelos vizinhos. Disquinho espectacular.