Fui novamente censurado pelo Facebook. E sem direito a notificação, pelo menos até
agora, 7 horas depois do facto. Desta feita, aceito metade da razão
inquisitiva: o post em causa, que publiquei na madrugada de 1 de junho e também aqui no blog,
insultava ninguém em particular mas uma boa fatia da humanidade em
geral, com brutalidade vernacular. É verdade. Estava enervado. Saíram
palavrões.
Persiste porém a outra metade do racional que me irrita
de sobremaneira: há montes de gente que se ofende nas redes sociais e
todos os ofensores são igualmente imbecis como eu, mas apenas são
censurados certos ofensores que são menos iguais que outros. Acontece a
coincidência extremamente coincidente de que os ofensores que são menos
iguais que outros (clube de que pelos vistos passei a ser membro) têm a
ousadia obscena de discordar das narrativas dominantes sobre isto ou
aquilo.
É irónico que o post censurado tenha origem e justificação
na notícia de que o CDC, a autoridade de saúde americana que as big tech
verificam como fiável, reconhece que a taxa de mortalidade do Covid-19
pode afinal não exceder os 0,26%. Portanto: um óbito por 400 infectados.
É irónico que uma rede social, que paga menos impostos e está
menos exposta à responsabilidade judicial sobre os conteúdos que coloca
online - por não ser plataforma editorial mas fórum do discurso público
- assuma que é legítima a edição da minha página.
Uma coisa é
exercer aqui actividade criminosa. Por exemplo: dar uma morada de alguém
que eu não gosto e incentivar a malta a ir lá fazer violência
(acreditem ou não, as redes sociais estão cheias de casos desses, sem
que os autores vejam os seus posts ou as suas contas suspensas). Outra
coisa é eu ser um malcriadão que escreve palavrões dirigidos a ninguém
em particular e a uma boa fatia da humanidade em geral. Quererá o
Facebook fazer de mim uma pessoa mais bem educada, é isso? Estará o
Facebook preocupado com o que os meus amigos - na verdade a completude
da minha querida mas estatisticamente insignificante audiência - podem
pensar de mim? Será intenção do Facebook poupar os meus amigos à
violência retórica do post enervado?
Claro que não.
O que
chateia o programa lindo e linear e uníssono do Facebook são as opiniões
sobre isto ou aquilo que as pessoas fora do baralho têm a ousadia de
publicar na plataforma.
E é óbvio que fui censurado por uma linha
do algoritmo, daquelas básicas. Essa não é a questão. A questão é que o
algoritmo existe. Foi imaginado por alguém. Calculado por alguém.
Codificado por alguém. E aceite como normal por todos.
Bem sei que
metade de vós, ou bem mais, gentis e pacientes leitores deste texto, vão
pensar que dramatizo. Que vivemos livres e tranquilos e que as
sociedades estão a evoluir na direcção certa e isso tudo. Mas
garanto-vos isto: hoje sou eu, por causa de ser mal criado ou de ter
opiniões perigosas ou o que seja. Amanhã serão vocês. Exactamente pelas
mesmas razões. Porque as vossas opiniões que são bem educadas e sensatas
e pacíficas na noite de hoje, podem completamente ser insurrectas e
censuradas já na tarde de amanhã. Tudo depende do critério de quem
manda, que é volátil e sobre o qual vocês, amigos, já não têm qualquer
controlo.