quarta-feira, junho 03, 2020

O lápis azul ataca outra vez.

Fui novamente censurado pelo Facebook. E sem direito a notificação, pelo menos até agora, 7 horas depois do facto. Desta feita, aceito metade da razão inquisitiva: o post em causa, que publiquei na madrugada de 1 de junho e também aqui no blog, insultava ninguém em particular mas uma boa fatia da humanidade em geral, com brutalidade vernacular. É verdade. Estava enervado. Saíram palavrões.

Persiste porém a outra metade do racional que me irrita de sobremaneira: há montes de gente que se ofende nas redes sociais e todos os ofensores são igualmente imbecis como eu, mas apenas são censurados certos ofensores que são menos iguais que outros. Acontece a coincidência extremamente coincidente de que os ofensores que são menos iguais que outros (clube de que pelos vistos passei a ser membro) têm a ousadia obscena de discordar das narrativas dominantes sobre isto ou aquilo.

É irónico que o post censurado tenha origem e justificação na notícia de que o CDC, a autoridade de saúde americana que as big tech verificam como fiável, reconhece que a taxa de mortalidade do Covid-19 pode afinal não exceder os 0,26%. Portanto: um óbito por 400 infectados.

É irónico que uma rede social, que paga menos impostos e está menos exposta à responsabilidade judicial sobre os conteúdos que coloca online - por não ser plataforma editorial mas fórum do discurso público - assuma que é legítima a edição da minha página.

Uma coisa é exercer aqui actividade criminosa. Por exemplo: dar uma morada de alguém que eu não gosto e incentivar a malta a ir lá fazer violência (acreditem ou não, as redes sociais estão cheias de casos desses, sem que os autores vejam os seus posts ou as suas contas suspensas). Outra coisa é eu ser um malcriadão que escreve palavrões dirigidos a ninguém em particular e a uma boa fatia da humanidade em geral. Quererá o Facebook fazer de mim uma pessoa mais bem educada, é isso? Estará o Facebook preocupado com o que os meus amigos - na verdade a completude da minha querida mas estatisticamente insignificante audiência - podem pensar de mim? Será intenção do Facebook poupar os meus amigos à violência retórica do post enervado?

Claro que não.

O que chateia o programa lindo e linear e uníssono do Facebook são as opiniões sobre isto ou aquilo que as pessoas fora do baralho têm a ousadia de publicar na plataforma.

E é óbvio que fui censurado por uma linha do algoritmo, daquelas básicas. Essa não é a questão. A questão é que o algoritmo existe. Foi imaginado por alguém. Calculado por alguém. Codificado por alguém. E aceite como normal por todos.

Bem sei que metade de vós, ou bem mais, gentis e pacientes leitores deste texto, vão pensar que dramatizo. Que vivemos livres e tranquilos e que as sociedades estão a evoluir na direcção certa e isso tudo. Mas garanto-vos isto: hoje sou eu, por causa de ser mal criado ou de ter opiniões perigosas ou o que seja. Amanhã serão vocês. Exactamente pelas mesmas razões. Porque as vossas opiniões que são bem educadas e sensatas e pacíficas na noite de hoje, podem completamente ser insurrectas e censuradas já na tarde de amanhã. Tudo depende do critério de quem manda, que é volátil e sobre o qual vocês, amigos, já não têm qualquer controlo.