#46 - Vs. - Pearl Jam
Ainda em 1993 e ainda no eixo de Seattle: "Vs.", o segundo trabalho de estúdio dos Pearl Jam, é capaz de ser o meu preferido, apesar de gostar bastante dos cinco discos que eles editaram entre 91 e 98 e de ser assim algo difícil eleger um. Eddie Vedder está aqui em grande forma lírica e vocal e o álbum encontra um equilíbrio muito razoável entre a electricidade reverberante e a sensibilidade melódica que caracterizam a banda.
Devo acrescentar, a título de curiosidade, que já salvei o Eddie Vedder de se estatelar direitinho no chão, depois de um salto maluco de cima das colunas e em direcção à audiência que decidiu dar no concerto do Dramático em 1996. É que quando ele saltou estava montes de gente cá em baixo, mas para lhe amortecer a queda só ficou o ingénuo do vosso amigo. Fui premiado com um abracinho apertado da estrelinha que voltou ao palco e terminou o espectáculo com uma costela partida. Ou foi o que se disse na altura. Next.
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#47 - Dummy - Portishead
Devo confessar que estou a gostar imenso desta viagem à discoteca da minha vida. É super porreiro reservar um bocadinho de cada dia para voltar a estas bandas todas e ouvir um bocadinho das suas óperas. E escrever um bocadinho sobre elas.
Exemplo máximo disto: Portishead. Ponho a tocar "Wandering Star" e fico logo todo arrepiado. Apetece-me logo fazer a estrada toda da madrugada com um disco apenas no cartão SD: "Dummy", o primeiro da banda, saído à rua em 1994.
Na altura chamavam a isto Trip Hop, mas eu que nunca fui grande fã de outras bandas de Trip Hop, desconfio que os Portishead não gostavam desse lugar no catálogo da cultura popular. Desconfio até que se estavam um bocado nas tintas para o catálogo. É que este disco é daqueles que, quando o ouves pela primeira vez, percebes rapidamente que estás perante qualquer coisa de fundamentalmente novo. Algo nunca experimentado. E que funciona, ainda por cima, mesmo que seja difícil de alinhar com as colunas que tens em casa porque os graves de estúdio dos Portishead são praticamente impossíveis. Também assinalavelmente improvável é a voz fantasmática de Beth Gibbons, que é capaz de te colocar numa câmara de tortura só para anunciar enfim, o paraíso ao condenado. Num caso como noutro, são exercícios praticados no gume afiado dos limites técnicos e criativos, onde só as obras de arte conseguem sobreviver.
Definição de disco de culto.
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#48 - Second Coming - The Stone Roses
Os colossais The Stone Roses só conseguiram editar dois longa duração de estúdio: um em 1989, outro em 1994. Bastante diferentes, por acaso, mas não em vigor criativo. Se em 89 já eram completamente a encarnação do triunfo de Manchester e do indie pop que ia ser consagrado logo a seguir, em 94 parecem regressar a um sonho feliz com Led Zeppellin dentro de uma discoteca ou coisa que o valha. A confiar no meu ouvido mais surdo, é com "Second Coming" que a banda realmente atinge o inatingível nirvana das pedras ganzadas.
Quero deixar aqui bem claro um protesto: The Stone Roses são um bocado mal tratados pela história do Rock. Este disco cujos fundamentos estéticos agora defendo é uma obra prima. Mas parece que disparou rumo a Júpiter. Bomba atómica espoletada no deserto, já ninguém se lembra dela e há muita gente que nunca a chegou a ouvir. E há muita gente que a ouviu, mas não como a explosiva solução de hidrogénio deve ser ouvida.
The Stone Roses. O nome diz tudo, mais uma vez, e oiçam, por gentileza e com ouvidos de ouvir, o clássico, interminável e belíssimo riff de guitarra eléctrica em "Love Spreads", o tema que deixo na caixa de comentários.
Depois digam lá se é ou não um momento de transcendência, aquele com que John Squire tem a cortesia de vos presentear, ò malta.
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#49 - Definitly Maybe - Oasis
Bom
deus, chegou a hora dos Oasis e que dizer dos insuportáveis e geniais
irmãos Gallagher? Entre um e outro que venha o diabo e escolha os dois,
por gentileza. Ainda assim, é justo dizer que o Rock and roll só ganhou
com este cabotino e dinâmico duo. Enquanto a guitarra do mano mais velho
debitava uma enciclopédia de riffs eternos, o Gallagher mais novo
mantinha relações sexuais com o microfone. E foi assim que fizeram
história.
"Definitely Maybe", o primeiro longa duração da infame
banda de Manchester, é o meu preferido porque ainda consegue alguma
inocência - e um bocadinho de ruído de garagem - que os outros 6
posteriores trabalhos de estúdio vão assassinando progressivamente. E é
difícil, para quem gosta de rock, permanecer insensível ao poder de
canções exuberantes e virtuosas como "Supersonic", "Live Forever" ou
"Slide Away". Estou a ouvi-las agora e convenhamos: mantêm um balanço
danado.
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#50 - Yes - Morphine
Coliseu dos Recreios, algures na derradeira década do século passado. Estão uns quatro ou cinco amigos razoavelmente bebidos e fumados e apertados num camarote que ocuparam sem pagar. O concerto implica uma banda grande e dura de que já nem me lembro. Mas a banda de suporte e a razão de estarmos ali razoavelmente bebidos e fumados num camarote abusivamente ocupado é Morphine. Como os senhores chegam ao palco e desatam a fazer aquilo que fazem bem, explode uma moche gigantesca lá em baixo, na plateia. Em consequência, outra moche espoleta cá em cima no camarote, para que aconteça nos cinco minutos seguintes um momento épico e inesquecível na minha história universal da música ao vivo.
Os Morphine são uma espécie de meteoro juliano. Chegaram, estabeleceram o seu som e venceram. Ninguém estava a fazer nada parecido com o que eles faziam em 1992. Nem em 1993. Nem em 95, quando saiu o disco que é o meu preferido da banda: “Yes”. O cool jazzístico que vivia do criativo saxofone de Dana Colley e do baixo com super poderes de Billy Conway é impossível de imitar (ou excessivamente arriscado) e o palco sonoro resultante não tem família na história do pop, se não me engano. Mais uma banda de três gajos apenas, que fez música como se de uma orquestra se tratasse. Mas não: era só talento concentrado. E uma vontade minimal de fazer as coisas bem feitas. "Yes" é por isso, no meu juízo de amador, um disco muito próximo da perfeição. Next.