segunda-feira, dezembro 21, 2020

A campanha mais imbecil de todos os tempos.

Está na rua uma campanha do Ministério da Saúde que bate todos os recordes de estupidez em comunicação. Não me lembro na minha vida de publicitário de nada assim tão néscio.

A mensagem que passa, carregada de um ataque de sinceridade que reflecte o mais completo desprezo pelos direitos e liberdades dos cidadãos - e pela qualidade de vida da população - é a de que os sacrifícios que estamos a fazer, as limitações abstrusas que nos estão a ser impostas, o fascismo a que estamos a ser sujeitos, tem como fundamental razão de ser... O bem estar dos técnicos do Serviço Nacional de Saúde. 

Tudo isto não tem a ver com salvar vidas. E pelos vistos, já nem tem a ver com a salvação do Serviço Nacional de Saúde. Tudo isto tem a ver com o volume de trabalho que o sindicato dos enfermeiros e a ordem dos médicos considera razoável.

Portanto, se em Portugal acontecer, por exemplo, um terramoto devastador, já sabemos que as vítimas do cataclismo têm que aparecer no hospital de forma ordeira e em pequenos grupos, para que médicos e enfermeiros não tenham perturbações no seu calmo e natural fluxo de trabalho.

Se o país se vir envolvido, num futuro mais ou menos próximo, num conflito militar cujo palco inclua o território nacional, os soldados e os civis terão primeiro que pensar em não atafulhar as urgências dos hospitais. 

Se os portugueses forem contagiados por uma doença infecciosa relevante, do género que mate de facto uma quantidade significativa da população, ficam desde já a saber os infelizes infectados que sobretudo devem morrer em casa e, preferencialmente, sem assistência médica, por forma a que a aristocracia clínica não seja sujeita à barbaridade das horas extraordinárias.

Não há nada mais importante que manter os técnicos de saúde felizes, livres de stress e com tempo para cumprirem os seus hobbys. E por isso, eles concedem um agradecimento generoso e altruísta, nesta campanha magnífica.

Sinceramente, não consigo imaginar, por muito que me esforce, que haja gente no mundo assim tão estúpida que aprove uma coisa destas. Se algum efeito vai ter, para além da constatação de que somos governados por atrasados mentais, é precisamente o oposto do que se pretende. É precisamente o efeito de ficarmos ainda um bocadinho mais desconfiados, um bocadinho mais zangados, com os profissionais do SNS.