Eu bem sei que, entre as várias e militantes ambiguidades presentes no 
texto de Tiago Rodrigues, a moral dramatúrgica parece incidir na 
condenação, mais ou menos tímida, mais ou menos dialéctica, do 
assassinato por motivação política. Mas isso não invalida de todo o meu 
argumento, porque se alguém tivesse a coragem de escrever e encenar uma Catarina e a Beleza de Matar Comunistas, toda a gente se recusaria a investigar sequer a moral da história. Toda
 a gente ia partir logo para o insulto e a censura e o cancelamento da 
liberdade de expressão. Porque a liberdade de expressão, em Portugal - e 
cada vez mais no todo do Ocidente - só existe para aqueles que não 
valorizam a liberdade de expressão. Para aqueles que a combatem em nome de um ideal essencialmente comunista: a igualdade. E
 como igualdade e liberdade são conceitos organicamente antagónicos, 
ninguém conseguiu ainda inventar um modelo social que os harmonize. 
Acontece apenas que a brigada igualitária está, nitidamente e apesar de 
todas as catastróficas evidências históricas, a ganhar o campeonato 
ideológico. E a ganhar sem que ninguém se levante para dar luta. Porque 
as direitas dos regimes ocidentais - a existirem - desistiram, há muito,
 de lutar. 
terça-feira, dezembro 15, 2020
Catarina e a beleza de matar.
A prova provada de que vivemos num regime ideologicamente condicionado 
está no título desta produção do Teatro Nacional D. Maria II: Catarina ou a Beleza de Matar Fascistas.
 Se em vez de matar fascistas Catarina se visse obrigada pela sua 
família de assassinos a matar comunistas, que carmo e que trindade não 
cairiam nas páginas dos jornais? Sim, se o D. Maria II levasse ao palco 
uma peça que se chamasse Catarina e a Beleza de Matar Comunistas
 (que são tão fascistas ou mais fascistas que os fascistas que a 
Catarina tem que matar), que incomensuráveis indignações pelejariam 
pelas redes sociais? Que vontade censória não triunfaria imediatamente 
nos corredores do Ministério da Cultura? Que apoio financeiro seria 
consignado à produção de tal horror? Que orçamento geral do estado 
poderia receber a conivência do Partido Comunista Português? 

