De repente lembrei-me de que me tinha esquecido. Tinha-me esquecido dos Dr. Feelgood e do segundo Long Play da minha vida, "As It Happens" e assim sendo temos que ligar a máquina do tempo para regressar a 1979.
Muito pouca gente sabe do que estou a falar quando falo desta banda de Convey Island, que praticava um tipo apuncalhado de rythm'n blues ferroviário a que na altura chamavam "pub rock". É uma pena porque os Dr. Feelgood são o mais genuíno, cru, nu, puro, curto e grosso agrupamento de malucos que o mundo já viu. Que o universo já ouviu. Que o cosmos alguma vez pariu. Bebiam leite com álcool e rejeitavam a medicina. Usavam botas de tacão e óculos degradé. Patilhas felpudas e penteados fora de moda. Cuspiam no palco e peidavam-se em público. O mau gosto e o mau aspecto eram um espectáculo dentro do próprio espectáculo.
Lee Brilleaux, o vocalista intrépido e fantasma de tasca que também soprava uma gaita como se fosse uma corneta do fim dos tempos, era uma espécie de anti-John Lennon. Wilco Johnson tirava acordes da guitarra como quem monta estruturas de arame farpado e a banda toda e por inteiro não podia ser mais bruta, mais vulgar, mais suburbana e mais difícil de mastigar.
Adoro os Dr. Feelgood. Adoro-os. E, para sublinhar a minha paixão, deixo dois clips, em vez de um só, porque eles merecem mais atenção. Merecem mais espaço. Merecem mais posteridade. Oh yeah.