O Universo num Átomo . Dalai Lama . Quidnovi
Dalai Lama disserta sobre a convergência entre a física quântica e a espiritualidade budista. Isto tem alguma hipótese de correr bem? Mais ou menos. Mas a leitura é entretida e vale sempre a pena entrar dentro da cabeça de Sua Santidade, que é uma pessoa mesmo muito especial e mesmo muito inteligente.
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Os Animais . Kobayashi Issa . Assírio & Alvim
Um dos meus poetas de culto, e o grande e fundamental escriba de haikus da história da literatura, Kobayashi é sempre um bálsamo e um motor de inspiração. Apesar dos problemas de tradução da poesia oriental de que já falei no post anterior deste Jornal de Letras, a colectânea de poemas dedicados ao reino animal, reunida e traduzida por Joaquim M. Palma, é um triunfo editorial que recomendo vivamente a quem tenha interesse ou curiosidade pela breve, sintética e requintada arte do Haiku e pela poesia clássica japonesa. Deixo aqui alguns poemas, para que quem não conhece este autor magistral, não morra ignorante:
és caracol
mas um dia
serás Buda!
corvos patetas
no meio da neblina
discutindo desde a manhã
um cuco interrompeu-me
agora que era
a minha vez de falar
apontando
para o escaravelho que se peida
Buda ri
depois do grande bando
dos gansos a caminho do norte
silêncio
atenção grilo!
muita atenção!
momento de urinar
sabe sempre qual é a cama
que lhe pertence
o gato louco
pardais pais
pardais bebés
uma montanha feliz
dentro da minha cabana
em viagem de negócios
uma rã
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O Tempo, Esse Grande Escultor . Marguerite Yourcenar . Difel
Já
fui um adorador desta senhora, no paleolítico inferior da minha
juventude. Hoje em dia não tenho paciência para esta geração de
intelectuais franceses, primeiros responsáveis pelo declínio da
civilização ocidental que testemunhamos hoje, e lê-los é um exercício
fantasmático, como se fosses transportado para um mundo perdido, sem
qualquer relação coma realidade. Não envelheceram nada bem, estes
ensaios.
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A Boneca de Kokoschka . Afonso Cruz . Quetzal
Mais um Romance do homem dos sete ofícios da Figueira da Foz, este aqui uma obra a sério, inspirada na esquizofrénica e obsessiva paixão do pintor Oskar Kokoschka e uma das mulheres mais influentes do Século XX, Alma Mahler. O pintor, que manda fazer uma boneca em tamanho real feita à imagem e semelhança da sua amada quando a relação termina, não imagina que consequências vai ter a sua criação nas pessoas que sobreviveram ao bombardeamento de Dresden, no fim da Segunda Grande Guerra. Afonso Cruz no seu melhor: baralhando a realidade com a ficção.
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As Rotas da Seda . Peter Frankopan . Itaca
Magnífico fresco sobre a Eurásia e sólido compêndio de História, este livro sofre no entanto de um problema, que é sinal dos tempos: de tanto desejar centrar o mundo fora da esfera ocidental, Frankopan acaba por borrar a pintura com preconceitos algo idiotas, que vivem apenas na sua imaginação e contra todas as evidências, característicos do ambiente académico que se vive hoje no universo anglo-saxónico. Ainda assim, trata-se de uma obra ambiciosa, de leitura muito agradável, onde encontramos de facto informação histórica útil para o bom entendimento do percurso civilizacional do Sapiens.