terça-feira, maio 04, 2021

A discoteca da minha vida #93: "Aman Iman", Tinariwen

Chegou a hora do rock tuaregue. Hã? Sim, sim: rock tuaregue. Dedilhados electrificados que vêm de um oásis algures escondido entre as dunas do Sahara, no norte do Mali. Rock guerrilheiro e pagão, rock ritual, rebelde e delicado lamento de nómadas. Sim, sim: Tinariwen. Uma banda que vem de outro espaço, de outro tempo, carregada de guitarras que são armas de fogo, de vozes que são facas de mato, de tambores que são exílios.

"Aman Iman" ("Água é Vida", em Português), o terceiro disco dos Tinariwen, editado em 2007, é qualquer coisa de sobrenatural. Ibrahim Ag Alhabib, a figura central da banda, transforma-se aqui e definitivamente num profeta da cultura berbere, grandiloquente e mágico interprete da voz de um povo, sereno contador de sofrimentos, inspirado trovador da liberdade.



Tive a sorte (e o mérito!) de os ver actuar ao vivo, no Forte de S. Filipe, em Setúbal, em 2009, se bem recordo. Foi um daqueles concertos que corresponderam inteiramente às minhas melhores expectativas, tanto a nível sonoro como cenográfico.


Entre Jimmy Hendrix e Lawrence da Arábia, entre B.B. King e Carlos Santana, entre Bob Marley e Shaka Zulu, os Tinariwen erguem gloriosa e despudoradamente a sua bandeira de traficantes de poesia, de contrabandistas da música. São lindos. São uma banda monumental.