O vírus da gripe chinesa é selectivo à brava. Snob, até.
Por exemplo, não ataca membros de claques de futebol, marxistas-leninistas em geral e justiceiros sociais em particular. Os guerrilheiros anti-racistas também se podem juntar em multidões e pilhagens que não há perigo.
Mas se fores católico praticante, estás entalado. O vírus adora-te e por
isso és um perigo para a saúde pública. Ou se te manifestares contra os
confinamentos. Nesse caso estás a propagar a gripe à razão de dez
cadáveres por minuto.
E as crianças também são uma ameaça terrível, claro. Principalmente quando estão perto dos professores. O vírus gosta imenso de se transmitir de crianças para professores. Mas se os professores estiverem compactados numa fila para a caixa do supermercado, ou para os saldos do Corte Ingés, já não têm nada que temer. Só em salas de aula é que são terrivelmente atacados pelo bichinho chinês. É um facto científico.
Passa-se exactamente o mesmo com enfermeiros, médicos, farmacêuticos e técnicos de saúde. Toda a gente sabe que o vírus tem especial predilecção por estes animais de estufa. Principalmente quando os encontra nos hospitais, nos consultórios, nas farmácias e nos laboratórios. Porque fora destes lugares o perigo diminui consideravelmente. Por exemplo, se um enfermeiro se encontrar na enfermaria, todos os cuidados são poucos. Mas se pertencer à Juventude Leonina e se enfiar numa garagem, rodeado de dezenas de camaradas que gritam os seus cânticos rituais para as caras uns dos outros, está completamente a salvo da fatal constipação. E o médico, se tiver como passatempo congregar-se em turbas selváticas para protestar contra a brutalidade policial no estado do Michigan, nada tem a recear e nem precisa de usar máscara, bem entendido. O vírus é perigoso em função da natureza do protesto. Se, ao invés, o mesmo médico optar por ir a um pacífico e escassamente frequentado comício do Chega, pode até ser considerado um homicida em série, tal é a irresponsabilidade do seu acto e tais são as consequências terminais da sua opinião política no contexto desta pandemia.
Ora porra para a gente ter que aturar isto.