Maio.
Se não fosse o vinho branco
estava a rapar um briol do pior.
Ventania.
O haiku sofre quando as páginas do caderno
não param quietas.
Passa o rabo de uma rapariga.
Os bikinis de hoje
matam-me o libido.
A boia publicitária, vermelha, enorme,
estraga a paisagem como as lombas pedonais
estragam a estrada.
Passa um bicho-helicóptero a toda a velocidade.
Que pressa pode ter
um insecto?
Na praia só há pescadores e surfistas.
E já é muita gente.
O oceano está zangado.
Mas os croquetes de alheira com molho de mel e mostarda
parecem bastante pacíficos.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera anunciava
um dia de sol.
Não percebem nada disto.
Comi e bebi como um lorde.
Pedir um dia quente seria até
excessivo.
Os cactos são mais friorentos
do que eu.
Aqui na esplanada entre as dunas, o tempo rende.
Ou então é a minha cabeça
que está a fazer horas extraordinárias.
Devia ter trazido o sobretudo.
Assim sendo, peço o Famous Grouse
sem gelo.
A minha pele precisa de sol
como esta página precisa de versos.
E pensar que há pessoas que rejeitam
a virtude do tabaco.
Quando o isqueiro já não consegue combater
a entropia do vento,
peço a conta.