sábado, julho 24, 2021

A ciência acrítica não é ciência.

O recente episódio protagonizado pela revista APS Physics e por Sabine Hossenfelder constitui uma magnífica ilustração da decadência das academias e de como a Cancel Culture e o Group Think estão a destruir o espírito científico com intensidade alucinante. A publicação convidou a professora do Instituto de Estudos Avançados de Frankfurt para escrever um artigo sobre os excessos especulativos da física contemporânea. Sabine, fazendo uso da sua proverbial frontalidade, escreveu um. O chefe de redacção achou que o artigo era demasiado sincero e recuso-o.

Reparem bem: a objecção não tem nada a ver com a validade dos argumentos da cientista alemã. Tem só a ver com o medo de ofender a sensibilidade de alguém (precisamente os físicos que fazem da especulação delirante o seu ganha pão e que Sabine critica). Portanto: a verdade não interessa. Interessa o que é conveniente. Interessa não incomodar ninguém. Interessa manter o status quo.

Acontece que, como todos sabemos ou deveríamos saber porque é historicamente evidente, a ciência não progride assim. A ciência progride através da crítica. A ciência progride através da dialéctica. A ciência progride quando é inconveniente, quando incomoda, quando rompe com o status quo.

E nem é preciso dizer mais nada, porque Sabine Hossenfelder fala por si.



E já agora, se alguém tiver curiosidade, o artigo recusado pela revistinha cobardolas, está aqui.