A última opus dos Black Keys é um exercício de Blues Rock que parece saído de um pântano de Louisiana, que parece ser tocado depois de uns tragos do mais áspero moonshine de Kentucky. Ou coisa que o valha. À primeira audição, os onze temas de "Delta Kream" parecem muito iguais, talvez porque foram gravados apenas em 10 horas, num curto hiato de 2 dias, talvez porque andam à volta de uma quimera perdida algures numa rua obscura de Nashville, talvez porque procurem esse mitológico retorno às origens da música popular americana. Não sei. Mas quanto mais ouço este disco, mais gosto dele. O lamento das guitarras entranha-se-me no cerebelo com intensidade progressiva. A seiva dos riffs entra-me na circulação sanguínea com poderes em crescendo. Vou sendo lentamente consumido por este balanço folk e conquistado, enfim, pela ópera pungente, simultaneamente dolorosa e triunfante, destes dois poetas da electricidade.
Que magnífica invenção da humanidade, a música.