segunda-feira, novembro 15, 2021

A astronomia em negação.

Como se já não bastasse à astrofísica o deplorável decaimento para a abstração delirante e a especulação indemonstrável dos teóricos, também a vertente experimental parece sofrer uma curva descendente de relevância, uma vez que está a ser progressivamente dominada por astrónomos que estão mais preocupados com a política terrestre do que com os objetos celestiais, e que por vezes percepcionam a procura de verdades sobre a natureza como ameaçadora.

Esta mentalidade é evidente em casos como o projeto de Telescópio de Trinta Metros (TMT) no Havai que foi alvo de críticas por manifestantes indígenas, que vêem a montanha onde o telescópio devia ser construído como sagrada. Com uma resolução 12 vezes mais fina do que o telescópio espacial Hubble, o TMT poderia oferecer novas oportunidades de observação em astronomia e astrofísica. Mas um movimento de apoio aos grupos indígenas por membros da comunidade de astronomia colocou em definitivo o TMT num impasse.

Na semana passada, observámos mais um sinal sinistro dos tempos, com o eminente astrónomo John Kormendy a retractar um artigo destinado a ser publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences. O artigo, focado nos "resultados estatísticos relativos à avaliação do impacto futuro da investigação em astronomia" procurava informar decisões sobre a atribuição de recursos, recrutamento de astrónomos e atribuição de bolsas e levantou um tsunami de críticas, não pela validade dos seus critérios científicos mas pelo uso de métricas quantitativas, que prejudicam a aplicação de critérios politicamente correctos como a diversidade étnica e de género e correspondente discriminação positiva.

Portanto, à ciência já não vale o que é exacto. Vale o que é político, conveniente, subjectivo. E os astrónomos são os primeiros a cancelar os princípios de objectividade e rigor estatístico que devem presidir à sua missão.

Infelizmente para Kormendy, as reivindicações de vitimização e desigualdade dominam agora muitas discussões académicas, de tal forma que tentar uma contribuição modesta para aperfeiçoar as ciências e os seus métodos pode ser atacada — e, neste caso, literalmente expurgada — por aqueles que acreditam que uma exploração quantitativa de certos conjuntos de dados pode ser prejudicial ou ameaçadora.


Fonte: Quillette - An Astronomer Cancels His Own Research - Because the Results Weren’t Popular