quarta-feira, dezembro 01, 2021

O meu pé pesado #16: acelerar nas florestais escocesas como forma de suicídio (parte 2).

De volta às suicidárias florestais escocesas. Quando comparado com o troço anterior, Newhouse Bridge tem dificuldades acrescidas: com secções muito rápidas inesperadamente interrompidas por segmentos super sinuosos e alterações no relevo que requerem alguma adaptação da condução às exigências da gravidade, este percurso, com a extensão de 12,7 kms, é ainda armadilhado com valetas nos limites da estrada. Se cais lá dentro perdes muito tempo, no mínimo. No máximo: encontras um tronco de árvore lá cravado perpendicularmente que te obriga inevitavelmente a carregares no botão de restart. Dá a nítida sensação que os madeireiros de Kinross gostam de pregar partidas aos pilotos de ralis.


Na direcção Sul/Norte/Sul, faço uma prova limpa, sem grandes dramas, exceptuando um momento, logo no primeiro minuto da prova, em que estou a centímetros de me enfiar numa valeta.



O carácter certinho da prova também quer dizer que os níveis de agressividade e confiança não estão lá muito altos, claro, mas consigo fazer um lugar entre os 850 primeiros na tabela contrarrelogista do jogo, pelo que saio daqui sem ficar zangado comigo.


No sentido inverso, mudo o chip e arrisco mais. Como consequência, o filme da prova é bastante caótico. Faço o primeiro sector a abrir loucamente, mas logo no segundo sector cometo um erro à saída de um gancho e bato de raspão contras umas rochas, perdendo aí seguramente um ou dois segundos. No último terço da prova tenha uma sorte louca: estou por várias vezes a milímetros da morte certa, escapando ileso, milagrosamente, das valetas e dos troncos de árvores à beira da estrada.



Ainda assim faço um tempo que, sendo superior ao que registei no sentido inverso do traçado, porque nesta direcção há mais quilómetros a subir, premeia o cerrar dos dentes e, sobretudo, a ajudinha que tive dos deuses do sim racing com um lugar entre os 600 primeiros.

Próximo rali: um pedregoso e tortuoso inferno a que as pessoas costumam chamar Argentina. Até lá, tenho que descansar as cervicais.