Em Outubro de 2013, escrevi:
É
minha convicção que os Estados Unidos estão a somar à decadência do seu
império a implosão da unidade interna, a pulverização da identidade
nacional e a falência do regime.
Porque
a divisão ideológica entre o povo americano está a
tornar-se irresolúvel e porque essa divisão tem o seu correspondente
geográfico, facilitando a lógica de trincheira e a razão de fronteira, é
minha convicção que uma segunda guerra civil americana será, a
médio-longo prazo, inevitável. Como a primeira, será travada pela
supremacia de um modelo económico: no século XIX, o modelo esclavagista
desafiou o aparelho industrial e perdeu. No século XXI, o impulso
libertário vai desafiar a imposição anacrónica de um estado social. E
esta vai ser uma guerra que ninguém vai ganhar. Vai ser uma guerra de
desintegração federal.
Oito anos depois, até o New York Times concorda comigo (se bem que com argumentos bem diferentes):
Mas, por outro lado, não vejo grandes soluções para esta América ferida e fracturada, em que uma metade odeia a outra metade.
Mais preocupante ainda: o que está a acontecer na América, também acontece, talvez com menor visibilidade e sem demarcações geográficas tão nítidas assim, em França, na Itália, em Espanha e no Brasil. As divisões ideológicas, agravadas pela pandemia, estão a criar divergências sociais profundas na esfera Ocidental.
Os bem pensantes gostam de dizer que vivemos tempos interessantes. Mas eu acho que às páginas tantas, mais que tempos interessantes, aqueles que vivemos são tempos perigosos. Muito perigosos.