quarta-feira, janeiro 26, 2022

O meu pé pesado #19: A dança do pó, no sobe e desce da Austrália (parte 1).

O desafio australiano teve uma dificuldade acrescida: como comprei entretanto o shifter da Fanatec, tive que me habituar à caixa sequencial, mais realista porque o  Fiesta R5 MkII que conduzo nesta série dedicada ao time trial de todos os troços do Dirt Rally 2.0 usa precisamente essa tecnologia e não a dos manípulos no volante.

Isto embora me pareça que, uma vez treinado nesta nova mecânica de condução, sou até mais rápido, porque a caixa liberta, nos momentos em que não estás a engrenar as mudanças, as duas mãos exclusivamente para a manobra direccional, sendo que a pega é mais forte e precisa.

Além disso, é preciso dizer que a caixa da Fanatec é um prodígio das tecnologias sim racing. Precisa, resistente, imersiva, promove um espantoso simulacro da realidade e oferece um enorme prazer de condução. Além disso, com um simples deslocar de uma patilha é possível passar da caixa sequencial para a convencional, com 7 velocidades mais marcha-atrás.

Os dois segmentos da Austrália incluídos no Dirt Rally 2.0, que cumpridos nos dois sentidos perfazem 4 troços, têm como característica fundamental uma dualidade de condições: uma parte rápida de gravilha fina e traçado relativamente plano e outra, mais lenta, acidentada e de piso irregular, em que se sobe e desce por uma montanha que de um lado tem ravinas e árvores e do outro a encosta da colina, pelo que a margem de erro é nestes trechos da estrada bastante reduzida. Nas duas tipologias aconselha-se sobretudo a fluidez e que não se lute excessivamente contra as forças que fazem o automóvel dançar sobre a pista. Se é verdade que enquanto estás a andar de lado não andas para a frente, na Austrália convém dar alguma liberdade à termodinâmica. É claro que o risco aumenta, mas a rapidez também. Uma condução demasiado controlada não é aqui, pelo menos na minha opinião, um método eficaz.

Acresce que este rali tem alguns curtos segmentos em asfalto, que são rápidos, mas ultrapassados com pneus de terra, pelo que a liberdade que deres aqui aos cavalos tem necessariamente que ser freiada em função da desadequação da borracha...

Neste primeiro post dedicado ao rali australiano faço os dois sentidos do Mount Kaye Pass (Welshs Creek no mundo real da prova do WRC) nos dois sentidos, um troço que tem 12,5 quilómetros de extensão.


Para além das características que enumerei, o Mount Kaye Pass apresenta como dificuldades específicas dois ou três saltos assustadores (porque ficas mesmo muito tempo no ar a grande velocidade e nem sempre o automóvel aterra em boas condições de manobrabilidade) e três pontes que são bastante traiçoeiras e difíceis de evitar se não preparares antecipadamente a posição do carro para lá entrares direitinho.

No sentido Este/Oeste, faço uma prova razoavelmente limpa, embora esteja sempre a tentar contrariar o comportamento sobre-virador do carro, que não consegui corrigir no set up.



Talvez por isso, não consigo melhor do que o 908º tempo da tabela, embora, para ser sincero, tenha ficado satisfeito com a minha condução e dificilmente, considerando o meu nível performativo e o limite de duas horas para cada troço, conseguisse fazer muito melhor que isto.

No sentido Oeste/Este as coisas correm bem melhor porque afinei melhor o set-up do carro e porque, apesar de uma prova bem mais caótica, decidi dar acrescida liberdade às leis da inércia, permitindo que o Fiesta dançasse mais na estrada. Depois de várias tentativas malogradas, estive nesta última por várias vezes à beira da catástrofe, mas consegui chegar inteiro ao fim do troço.



O resultado foi um tempo dentro dos 400 melhores, que está no âmbito daquilo que eu na verdade posso fazer de melhor.

Até porque na Austrália deves reconhecer os teus limites, caso contrário, estás entregue aos cangurus.