segunda-feira, janeiro 31, 2022

Um jogo de soma socialista.


Estava enganado quando escrevi aqui, a 28 de Outubro, que António Costa conseguiria, mais coisa menos coisa, o mesmo resultado eleitoral de 2019. Não estava enganado quando previ que o eleitorado iria castigar os partidos à esquerda do PS: a CDU e o Bloco juntos não conseguiram a somar 10% dos votos dos portugueses. E os socialistas recolheram essa dissidência sem saber ler nem escrever para conseguir uma maioria absoluta histórica. É proverbial que os portugueses castigam as forças políticas responsáveis por interrupções às legislaturas.

Também não estava enganado quando projectei a queda de Rui Rio, que não tem agora saída senão a demissão. E o oblívio.

Nem me equivoquei quando anunciei a derrocada do CDS (ninguém à excepção do insuportável Xiquinho podia supor outro resultado), mas não me passou pela cabeça (embora isso fosse na verdade expectável e lógico) que esses votos perdidos fossem todos direitinhos para a Iniciativa Liberal, talvez o partido que, exceptuando o PS, mais razões tem para celebrar.

A este propósito, arrisco um obituário: o CDS morreu hoje. Paz à sua alma.

O Chega cresceu, mas não ultrapassou os resultados que Ventura tinha concretizado nas presidenciais e continua incapaz de resgatar votos à abstenção, o que, para um partido populista europeu, é dramático. Tanto mais que se mostrou também inoperante no que concerne à capitalização política das restrições inconstitucionais e autoritárias e empobrecedoras impostas pelo governo a propósito da pandemia, embora num país essencialmente habitado por bois seja sensato reconhecer que é difícil colher frutos de uma mensagem política direccionada a indivíduos que pensam pela própria cabeça.

No fim das contas, o país saiu destas eleições com uma solução clara de governabilidade e é preferível que Costa governe com maioria absoluta do que com as forças à esquerda dele. A má notícia é que uma maioria absoluta do PS derivará inevitavelmente para o fortalecimento do estado, o enfraquecimento da sociedade civil e da economia independente, o agravamento da dívida, o aumento de impostos e a corrupção generalizada.

Nada de novo, portanto, na frente lusitana.