"The secret of politics? Make a good treaty with Russia."
Otto von Bismarck
Para que não existam dúvidas, a posição do Blogville sobre a guerra da Ucrânia é a seguinte:
1. Este conflito é de ordem regional. A Ucrânia, como estado moderno, tem menos de um século e as suas actuais fronteiras, cerca de 3 décadas. A sua independência foi sempre questionada pela Rússia. Um terço da população ucraniana é Russa. Sendo uma república semi-presidencialista e funcionando para a etnia nativa como uma democracia, a Ucrânia é hoje um estado bastante repressivo sobre a minoria russa.
2. A Rússia não é uma democracia; Putin é, para todos os efeitos, um ditador e, como qualquer outro Czar - Ruríquidio, Romanov ou Soviético - um ditador imperialista. O passado deste homem fala por si. Operacional da KGB, perito em métodos draconianos de fazer política, especialista em operações de manipulação da consciência colectiva e alegre assassino de quem atrapalha os seus desígnios e os desígnios do seu regime, Vladimir Putin é uma raposa velha, enrijecida por uma vida de brutalidades, que lidera um povo de carácter forte, tendencialmente nacionalista, consciente da sua história e da sua posição no mundo, e um exército disciplinado e muito bem equipado.
3. Os líderes ocidentais não têm, porém e neste momento da história, qualquer legitimidade moral para acusar Putin de expansionismo ou de despotismo. Cometendo sucessivos actos fascistas sobre as suas populações e trazendo consigo o cadastro de sucessivas guerras que espoletaram desastradamente em variadíssimas localidades da geografia planetária, por razões falsas ou difusas ou apenasmente derivadas de um economicismo globalista cujos resultados catastróficos estão agora à vista de toda a gente, são, eles sim, os verdadeiros intérpretes do mais pernicioso imperialismo: aquele que projecta toda a dissensão, interna ou externa, como um imperdoável acto de terrorismo.
4. Não há qualquer razão de ordem racional ou material para provocar uma guerra global a partir de uma disputa de carácter específico, tanto em termos históricos como geográficos, que pode escalar rapidamente para um cataclismo civilizacional ou mesmo para um evento de extinção termonuclear. A invasão da Ucrânia pela Rússia não representa ameaça nenhuma para os interesses estratégicos, económicos ou energéticos do Ocidente. Ao contrário, uma guerra, mesmo que fria, com a Rússia terá implicações que não creio que estejam a ser bem calculadas pelos líderes europeus e americanos.
5. Putin tomou a decisão que tomou agora porque sabe que o Ocidente está fragilizado como nunca. Que as suas lideranças são fracas e impopulares. Que as suas forças militares, depois do exemplo miserável que deram ao mundo no Afeganistão; estão desmoralizadas e são quotidianamente efeminadas pela ideologia woke que as infectou ao máximo ponto do ridículo. Biden precisa urgentemente de ser internado num lar, Boris Johnson é um bluff com pernas à beira de ser corrido pelo seu próprio partido, Macron está mais interessado em ganhar as próximas eleições do que nas crianças que vão vão morrer em Kiev e os alemães neste momento só pensam numa coisa: haverá gás para aquecer as casas amanhã?
6. O Presidente russo precisou apenas da autorização dos chineses, que têm tudo a ganhar com um conflito na Europa e que constituem a única ameaça real às suas ambições. Até porque a próxima invasão será a de Taiwan. Serão os media tão defensores das fronteiras desta ilha, como parecem protectores das fronteiras da Ucrânia? E a reacção dos líderes ocidentais, será assim tão inchada pela indignação, será assim tão carregada de ameaças?
Duvido muito.
7. As sanções decretadas pelo Ocidente serão sempre temporárias, e nesse sentido, ineficazes, porque o Ocidente precisa dos bens energéticos e industrias russos como de pão para a boca. A única sanção séria seria a de retirar a Rússia do sistema financeiro internacional, tornando-a numa nação pária. Só que isso constituiria, para todos os efeitos, uma declaração de guerra.
8. A ironia suprema dos tempos que correm é que, em certo sentido e apesar de tudo, Vladimir Putin é o último defensor dos valores da Civilização Ocidental. Cristão, conservador no que diz respeito aos valores culturais do seu país e da velha Europa, protector da família como unidade essencial da coesão social, inimigo histriónico da ideologia woke, das ambições distópicas do World Economic Forum e do projecto globalista, o inquilino do Kremlin trava uma luta desigual com forças bem mais poderosas que aquelas que consegue reunir à sua volta. Mas conta, paradoxalmente, com o apoio calado e na verdade inútil de milhões de europeus e americanos, que se revêm mais nele do que nos seus próprios líderes.
9. Se os regimes instituídos no Ocidente quisessem evitar este conflito, tê-lo-iam evitado. Mas por razões de agenda política ou desvario globalista, não o quiseram fazer. É um jogo perigoso e os nossos queridos líderes podem sair dele com um jackpot de poder absoluto. Mas também podem sair dele sem o pescoço. Quem vai à guerra dá e leva.
10. Uma coisa é certa: o mexilhão que sempre se lixa, o mexilhão que vai morrer no teatro das operações, o mexilhão que vai ter que suportar os custos materiais e imateriais desta merda; esse mexilhão que és tu, que sou eu, que é 99% da população mundial, não tem nada a ganhar com este guerra. Nada. Zero. Nicles. É mais um fardo que as elites despejaram sobre a populaça. E mais despejos vão acontecer até que a populaça esteja de tal forma empobrecida, de tal forma subjugada, que não seja já capaz de contrariar a nova ordem totalitária.