sexta-feira, maio 27, 2022
Haikus do alto da Falésia (cont.)
Sou de Lisboa.
Estar sozinho num raio de 500 metros
Já serve de paraíso.
Paciente, a doca espera
Pela azáfama do verão.
Até lá, as gaivotas emagrecem.
As horas correm como se nada fosse.
Mas o Gandalf faz-me falta.
Detesto o poder que tenho
Sobre a vida dos animais que adopto.
A próxima pandemia
Será a última.
A Kika alugou uma sombra.
Férias.
E se de repente
O Novo Testamento cumprir
A sua promessa?
Últimos dias.
Estou com comichão
De últimos dias.
Quanto mais para dentro do espaço-tempo
espreitam os astrónomos,
Mais cega fica a ciência.
O boletim meteorológico
é irrelevante para o haiku.
Ser consciente.
Um privilégio de que poucos
Trazem consciência.
Tantos haikus escrevinho
Que algum há-de sair
Certo.
O único sucesso acessível ao homem
É o de morrer em paz.
The Wombats.
Orquestra filarmónica
Para os versículos de João.
Pesa a idade.
Em vez do terceiro gin,
Um olá fresquinho.
A vida do eremita é abençoada.
Não tem vizinhos.
O meu vizinho pendurou na varanda
uma casa para pássaros.
Foi lá que o rato fez o seu ninho.
Rosé.
Uma espécie bem humorada
De vinho tinto.
Ontem apanhei um escaldão.
Remorsos.
Hoje vou apanhar outro escaldão.
Arrependo-me amanhã.
Dêem um jardim à minha mulher
Que a Primavera rebenta logo.