quinta-feira, maio 19, 2022

Haikus do Alto da Falésia




Música.
Fico surdo para tudo
O resto.



O calor dissipa-se à segunda cerveja.
Verão de Maio.



55 anos e o corpo já velho.
A dor é o derradeiro ensinamento.



Ninguém consegue ser sábio
Sem experimentar uma contractura.



O corpo cede primeiro que o espírito.
É essa a tragédia.



Tenho uns quantos, mas
O Haiku é o meu hobby
Preferido.



Quem goza mais com a escrita
É quem a escreve.



Podia ser Agosto,
Mas a baía está quieta
Como em Fevereiro.



O sol, quando nasce,
É para todos.
Até ver.



De madrugada oiço ecos de uma nova pandemia.
É para o lado que durmo
Melhor.



Se estivesse mais calmo,
Estaria drogado.



Esta varanda sobre a baía
Vale quantos versos por metro quadrado?



O sol comete crimes
Sobre a minha pele.
Legalizo-os.



Os haikus saem rápido.
Amadorismo.



O Haiku é uma valsa lenta.
E eu só sei dançar depressa.



Paz.
Até a traineira
Poupa no gasóleo.



No telhado do vizinho
Um gato-espantalho assusta as gaivotas.
É sinistro.



Irmãos Karamazov.
A comédia humana
Não tem piada nenhuma.



Café.
Até Deus precisa.



Foi depois de uma bica bem tirada
Que César triunfou
Em Alésia.



The 1975.
O pop com que Mozart
Sonhou um dia.





A baía eleva-me e a culpa é de
Deus Nosso Senhor.



Sou do reino de Cristo
Até porque sei que nunca
Vou ser cidadão dessa monarquia.



O meu cristianismo é filosófico.
Na prática sou um crápula como todos os ateus.



Não serei salvo no último juízo,
Mas em Cristo encontro a redenção
Para o entretanto.



Começo a escrever haikus e nunca mais paro.
Junkie.



A tarde começa a ficar cansada
Dos seus super poderes.
Hora do gin.



Maio vermelho.
O Jardim rebenta de rosas.