domingo, novembro 06, 2022

O Partido Comunista Português está definitivamente alienado.

O PCP deve ser neste momento do surrealista campeonato nacional dos partidos da República Portuguesa, aquele pelo qual tenho mais respeito, o que também não é dizer muito porque não alimento grande consideração por partidos políticos, seja aqui, seja no fim do mundo conhecido.

Mas Ok. O Paulo Raimundo. Quem é?

Segundo o Diário de Notícias, que deve saber do que fala, dada a proximidade ideológica da redacção, o Paulo Raimundo tem este notável percurso:

Frequentou a Escola Primária do Faralhão, freguesia do Sado, em Setúbal, uma escola construída durante a Revolução de Abril, na dinâmica do trabalho solidário e voluntário dos trabalhadores e populações da localidade", e teve, diz o PCP, uma "infância marcada pela vivência de rua e junto ao rio Sado", tendo até estado na "apanhada do marisco", ajudando a mãe.

O percurso escolar, todo realizado em Setúbal, é resumido assim: "Frequentou a telescola no 5.º e 6.º anos e a partir daí frequentou a Escola Ana de Castro Osório, na Bela Vista, em Setúbal, onde fez o 7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade e teve o primeiro contacto com dinâmicas associativas, de organização e de luta estudantis. Mais tarde ingressou no 10.º ano na Escola Secundária da Bela Vista, num período em que a dinâmica estudantil em diferentes expressões é muito viva e a luta política é intensa. Participou em listas para a Associação de Estudantes, integrou a Associação de Estudantes e também a comissão de finalistas dessa escola. Passou à condição de trabalhador-estudante e acabou o seu percurso escolar finalizando o 12.º ano, a estudar à noite, na Escola Secundária D. Manuel Martins, também em Setúbal."

No perfil são sublinhadas "as realidades que lhe permitiram sentir as contradições do dia a dia, a realidade do trabalho mal pago, da exploração e da precariedade" enquanto "trabalhou em carpintaria, foi padeiro e animador cultural na Associação Cristã da Mocidade (ACM) na Bela Vista".

Paulo Raimundo, hoje com 46 anos, "aderiu à Juventude Comunista Portuguesa em 1991 [...] é membro do Partido desde 1994 e funcionário desde 2004 [...] Em 1996, no XV Congresso do PCP, foi eleito membro do Comité Central. No âmbito do XVI Congresso, em 2000, foi eleito para a Comissão Política do Comité Central do PCP".

Mas recentemente, "na realização do XX Congresso, foi eleito para o Secretariado do Comité Central" e "durante o XXI Congresso foi eleito para a Comissão Política e o Secretariado do Comité Central".

Ou seja, há 31 anos que desempenha funções no PCP.

 

Perdão? O homem vai tomar conta do partido porque está lá há 31 anos e tirou o 12º ano à noite e "sentiu as contradições do dia a dia, a realidade do trabalho mal pago, da exploração e da precariedade"? Ou foi porque trabalhou em carpintaria? Na perspectiva dos eleitores, o que é que este homem tem para oferecer? Que ideias, para além da cartilha estalinista? Que voz, para além do amplificador do Comité Central? Que identidade, para além do cartão de cidadão? Que experiência de liderança? Que bagagem técnica?

O PCP ainda tem alguma, mesmo que mínima, intenção de captar votos para além daqueles que são irredutíveis, mas que, no inevitável seguimento da lei da vida, acabam por se mostrar incapazes de comparecer nas urnas, porque entretanto foram enfiados nas suas próprias?

É verdade que o PCP vive uma crise de quadros, que tem a ver com questões geracionais, mas sobretudo com algum autismo dos burocratas do Comité Central. Ainda assim, há qualquer coisa de profundamente disfuncional no elevador que transporta este rapaz para o último andar do nº 3 da Soeiro Pereira Gomes.