Fogo de artifício.
Faz dos adultos,
crianças.
O Inverno parou
para triunfo do fogo.
Ainda estou vivo.
Será por isso que a autarquia
desperdiça energia?
Se a Kika fosse mais esperta,
o sapiens era ela.
A baía celebra a volta
à volta do Sol.
Com pólvora.
Ainda consigo ser civilizado
com pessoas que detesto.
Mas é cada vez mais difícil.
Amo a minha sobrinha,
que teve a sorte
de não ser minha filha.
De tal forma sou senhor de mim,
que até o Inverno
recua.
Quando passas meses sem escrever haikus,
nota-se.
48 horas sem computador.
Entro em pânico.
Não sou a pessoa que gostava de ter sido,
mas
O Evangelho de João
mata-me.
É difícil ser Cristão.
Até porque o primeiro de nós acabou
na cruz.
Entre aquilo que acredito
e aquilo que sou
há todo um evangelho.
Sempre que não sou capaz de perdoar,
Cristo olha-me nos olhos.
Escrevi um evangelho.
Ninguém ligou nenhuma.
Terei que palmilhar a Estrada de Damasco.
Não deve ter sido por acaso
que me baptizaram
Paulo.
Os meus haikus estão a ficar meus
em demasia.
Devo ser o mais stressado
dos escribas que alguma vez ousaram
a arte de Kobayashi.
Nunca escreverei um haiku
decente.
É a vida.
O mau poeta cumpre
boa missão:
A grandeza de outro alguém.
Em Portugal o Inverno é raro.
O Inferno,
não.
Fazer amigos:
Quando não sentes um choque eléctrico,
não insistas.
All Star.
O melhor par de sapatos
depois das sandálias do Pescador.
É giro viver em sociedade
Até que não
é.
Haiku:
Quantas palavras são
as mínimas?
Haiku:
o ruído máximo
que traz o silêncio.
ContraCultura.
O corpo já não obedece
à ambição.
Mutam estações e eras
mas a baía
não.
Quando já não houver memória do Homem
viverá viúva
a baía.
Os que pensam que o homem destrói o planeta
não percebem o homem
nem o planeta.
Se há vida,
haverá razão.
O Haiku é uma droga dura,
sem efeitos secundários.
Sou desastrado na vida.
Como no Haiku.
Vento de Janeiro.
Até o cacto estremece.
É no Inverno que o mar
te diz da tua situação
no universo.
Desço à vila.
O Inverno transforma-se.
Foi por minha causa?
Desço à vila.
Deus aproveita para exibir
alguns truques.
Às vezes acho que a Natureza
trabalha para meu prazer
estético.
Todos carregamos uma cruz.
Mas o peso difere e não depende
da madeira.
Estou gordo e frágil e velho.
Mas a baía não se importa.
Amanhece.
Levo o Haiku ao seu último
verso.