segunda-feira, janeiro 02, 2023

Haikus da Passagem.


 

Fogo de artifício.
Faz dos adultos,
crianças.

 

 

O Inverno parou
para triunfo do fogo.

 

 

Ainda estou vivo.
Será por isso que a autarquia
desperdiça energia?

 

 

Se a Kika fosse mais esperta,
o sapiens era ela.

 

 

A baía celebra a volta
à volta do Sol.
Com pólvora.

 


 

Ainda consigo ser civilizado
com pessoas que detesto.
Mas é cada vez mais difícil.



Amo a minha sobrinha,
que teve a sorte
de não ser minha filha.

 

 

De tal forma sou senhor de mim,
que até o Inverno
recua.

 

 

Quando passas meses sem escrever haikus,
nota-se.

 

 

48 horas sem computador.
Entro em pânico.

 

 

Não sou a pessoa que gostava de ter sido,
mas

 

 

O Evangelho de João
mata-me.

 

 

É difícil ser Cristão.
Até porque o primeiro de nós acabou
na cruz.

 

 

Entre aquilo que acredito
e aquilo que sou
há todo um evangelho.

 

 

Sempre que não sou capaz de perdoar,
Cristo olha-me nos olhos.

 

 

Escrevi um evangelho.
Ninguém ligou nenhuma.
Terei que palmilhar a Estrada de Damasco.

 

 

Não deve ter sido por acaso
que me baptizaram
Paulo.

 


 

Os meus haikus estão a ficar meus
em demasia.

 

 

Devo ser o mais stressado
dos escribas que alguma vez ousaram
a arte de Kobayashi.

 

 

Nunca escreverei um haiku
decente.

É a vida.

 

 

O mau poeta cumpre
boa missão:
A grandeza de outro alguém.

 

 

Em Portugal o Inverno é raro.
O Inferno,
não.

 

 

Fazer amigos:
Quando não sentes um choque eléctrico,
não insistas.

 

 

All Star.
O melhor par de sapatos
depois das sandálias do Pescador.

 

 

É giro viver em sociedade
Até que não
é.

 

 

Haiku:
Quantas palavras são
as mínimas?

 

 

Haiku:
o ruído máximo
que traz o silêncio.

 

 

ContraCultura.
O corpo já não obedece
à ambição.

 


 

Mutam estações e eras
mas a baía
não.

 

 

Quando já não houver memória do Homem
viverá viúva
a baía.

 

 

Os que pensam que o homem destrói o planeta
não percebem o homem
nem o planeta.


 

Se há vida,
haverá razão. 

 

 

O Haiku é uma droga dura,
sem efeitos secundários.

 

 

Sou desastrado na vida.
Como no Haiku.

 

 

Vento de Janeiro.
Até o cacto estremece.

 

 

É no Inverno que o mar
te diz da tua situação
no universo.

 

 


 

 

Desço à vila.
O Inverno transforma-se.
Foi por minha causa?

 

 

Desço à vila.
Deus aproveita para exibir
alguns truques.

 

 

Às vezes acho que a Natureza
trabalha para meu prazer
estético.



Todos carregamos uma cruz.
Mas o peso difere e não depende
da madeira.



Estou gordo e frágil e velho.
Mas a baía não se importa.



Amanhece.
Levo o Haiku ao seu último
verso.