terça-feira, julho 18, 2023

O Tour permanece teimosamente em apogeu histórico.

A Volta à França deste ano chegou ao fim da sua segunda semana num impasse: Vingegaard e Pogacar estão separados por 10 segundos e ninguém, nem eles, consegue neste momento imaginar como é que o nó da corda que os une poder ser desatado. Porque se é verdade que o esloveno tem a vantagem, teórica, do contra-relógio que se vai disputar hoje, o dinamarquês conta ainda com as etapas de alta montanha que ainda faltam cumprir para remediar algum prejuízo que aconteça no entretanto.

A segunda semana foi rica em emoção e duelos épicos entre os dois favoritos, que correm numa classe à parte, exclusiva para os imortais da modalidade ciclística. Tanto na Sexta-feira como no Sábado, aconteceram etapas que vão ficar para a história do Tour, com ataques alternados da Jumbo Visma e da UAE, que culminaram em ataques alternados de Vingegaard e Pogacar. 

No correr da semana, o esloveno tinha ganho uns segundos ao camisola amarela, conseguindo no final de duas etapas ganhar uns poucos metros ao rival e capitalizar as bonificações que o risco de meta guardava. 

Mas na etapa de Sábado, que contava 3 subidas de primeira categoria e uma de categoria especial, Pogacar quis atacar, mas as motas da imprensa e o público que fechava a estrada impossibilitaram a iniciativa. Vingegaard aproveitou a frustração e a desconcentração do adversário e atacou a cem metros do fim da última montanha para ganhar uns segundinhos, mas como a etapa não acabava lá em cima, Pogacar conseguiu compensar esse lapso mental chegando à meta em segundo lugar, logo seguido do rival dinamarquês.


No Domingo, as coisas não foram muito diferentes, até porque a etapa também foi marcada por um acontecimento extra-desportivo: mais uma vez no Tour, o público influiu no desenlace da prova, já que um parvalhão qualquer que estava à beira da estrada logo nos primeiros quilómetros da corrida provocou a queda de dezenas de ciclistas, entre os quais dois da Jumbo Visma, que ficaram bastante magoados, influindo decisivamente na estratégia que a equipa tinha desenhado para esse dia, já de si muito difícil, que integrava 7 subidas (!), duas que nem sequer eram categorizadas (para que o sadismo não desse muito nas vistas) e 3 de primeira categoria. 

Como no Sábado, a decisão ficou para os últimos quilómetros mas o resultado foi um empate técnico: como foi um ciclista que integrou a fuga que acabou por vencer e houve muitos dos elemento dessa escapada que chegaram antes dos dois candidatos à vitória na classificação geral, não houve bonificações no risco final do Mont-Blanc para Pogacar e Vingegaard, que chegaram coladinhos e continuaram assim com os mesmos dez segundos de diferença com que tinham partido nesse dia.

No que diz respeito aos simples mortais, o destaque vai inteirinho para Carlos Rodriguez, que é agora terceiro, depois de ter ganho a etapa de sábado com uma pinta desgraçada e de se ter aguentado muito bem na etapa de domingo. O espanhol está já a mais de cinco minutos do duo de prodígios que disputa a vitória em Paris, mas tem contribuído deveras para que a INEOS consiga fingir que está a fazer uma prova decente. Considerando o orçamento da equipa britânica, não está.

Vale a pena elogiar também a performance de Adam Yates, da UAE, e de Sepp Kuss, da Jumbo Visma, porque conseguem ser quarto e sexto, respectivamente, apesar de terem de trabalhar constante e afincadamente para os seus líderes.

Desde 2020, quando Pogacar arrancou a vitória a Roglic, na célebre crono-escalada que perfazia a penúltima etapa dessa edição do Tour, que estamos a assistir a uma era do ciclismo que vai permanecer na memória colectiva durante gerações sobre gerações. 

O calibre atlético e mental de Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard é difícil de igualar, são ciclistas estratosféricos, cujo surgimento é sempre de grande improbabilidade estatística; mas ainda assim devemos ponderar na equação do ciclismo contemporâneo outros atletas de eleição como Remco Evenepoel, Wout van Aert, Mathieu Van Der Poel, Primoz Roglic e Tom Pidcock. É muita gente de muita qualidade.

Esta é, de facto, uma boa altura para gostar de ciclismo.