terça-feira, setembro 17, 2024

Haikus de antes da guerra.


 

Escrevo à luz das velas
Como faziam
Os antigos


Gordo e sofisticado -
O pregado ensina-te que a vida
É bela


Há certas noites de Setembro na baía
Que obrigam
À religião


Devo a Deus
A paz
dos meus dias


Quarto Crescente -
Até o Atlântico
Se incendeia


Border Colie -
Uma fúria
De Energia


O gato Álvaro
Vive apaixonado
Pela falésia


A Ofélia é tão meiga
Que até os meus carinhos
Parecem ralhos


A minha bandeira é a paisagem -
Sou nacionalista
Da Baía

 

Amo o meu país
Por causa de ser assim
Tão mal amado

 

Tão pacífica a baía
Que até a marinha de guerra
Passa a frota pesqueira


Os haikus são pobres
Mas o prazer que dão
É milionário


The 1975 -
Pop como todo o pop
Deveria ser

 


 

 

Às vezes até tenho medo
De ser assim
Feliz


Podem prometer-me monte carlos -
Não quero mais
Que sesimbras


A minha pequena burguesia
É muito bem
Sucedida

 

O sossego deste momento
Não tem caos
Possível



 

 

Privilégio -
Ninguém desperdiça bombas atómicas
No meu país


Sobrinhos -
É como ter filhos
Sem o sofrimento


A BIC está a dar as últimas -
Bloqueio
Do poeta


A coluna Marshall
Tem voz
Grossa


Rogo a Deus que morra
Antes da minha
Mulher


Inércia -
Os haikus são difíceis
De deter


Inflacção -
O pregado ganha estatuto
De esturjão


A Marinha gosta da baía
Como a CIA
De casas seguras


Toda a teoria da conspiração acaba
Como o mesmo
Acrónimo


Satanás não tem hipótese comigo -
Nunca fui bem sucedido
Em nada

 

Não sei rezar, mas
Qualquer dia
Aprendo


 


 

 

Duas libelinhas copulam
Em voo -
Líbido das espécies


No negro largo
Uma lanterna -
Labor de homens 


Estás tão perto do fim
Que até o relógio
Entrou em pânico


A guerra é agora inevitável -
Saboreia este momento
De paz