Esta página tem sido muitas coisas diferentes para mim. Um diário, em certo sentido e durante alguns anos. Uma gaveta pública para os meus desajeitados versos. Um megafone, rouco, para os meus protestos, os meus espantos, as minhas indignações e as minhas, sempre acérrimas, convicções. Um cofre sem cadeados para as minhas manias, os meus cultos, as minhas leituras, os meus passatempos, as minhas referências. Um confessionário, também, de vez em quando. Um gira-discos, noutros tempos em que tinha mais tempo e paciência para dedicar à música e amigos que a partilhavam comigo e com quem eu a partilhava. Um trampolim para o ContraCultura, claro, e um berçário de conteúdos, agora. Mas, sempre, o veículo para as palavras que tenho que expressar, para os parágrafos que estão constantemente a pedir liberdade, na minha cabeça.
Tenho afecto por este blog, se é possível estimar um objecto electrónico. E é teimoso (uma virtude, na minha escala de valores). Persiste. Sobrevive. Transcende depressões e pandemias, irritações e abandonos, arrelias e greves, insónias e fúrias, distrações e afazeres, desvios ideológicos e divergências religiosas.
Em 2004, quando o criei, era ateu. Dez anos depois já era agnóstico. Hoje sou um cristão convicto, se bem que heterodoxo e desalinhado, religioso sem religião, crente sem fé.
Nessa altura, era um conservador de genética liberal. Hoje, sou um populista de cultura conservadora.
Por esses tempos, era um gajo de companhia. Neste momento, sou um aspirante a eremita.
Há neste blog tanta coisa escrita que não escreveria agora. Tantas sensações que já não sinto, Tantos credos que já não creio. Mas que fazem sentido ainda assim, considerando quem era, como pensava e porque pensava dessa maneira. O contexto é fundamental e este blog é, por definição e durabilidade, contextual.
Daqui a vinte anos, hei-de por certo pensar da mesma maneira sobre o que escrevo hoje. Porque se for vivo por essa altura, o blog existirá também, certamente.
Estas duas décadas passaram rápido. A vida é um foguetão disparado sobre o desconhecido a uma velocidade que aumenta exponencialmente à medida que nos aproximamos do destino último.
A morte, diria eu em 2004. O abraço de Cristo, digo eu agora.