O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
Álvaro de Campos
Estou cansado.
Estou cansado do trabalho que me dá o trabalho que tenho, mas estou cansado sobretudo de perder.
Estou cansado de já não viver no mesmo país em que sempre vivi, sem ter sequer imigrado.
Estou cansado de eleger filhos da puta e de argumentar em favor de causas em que já nem acredito.
Estou cansado de ver este mundo em queda.
E estou cansado da minha impotência.
Estou cansado de mim, tanto como de ser ocidental, como se ser ocidental fosse alguma coisa pela qual uma pessoa se deva cansar.
Não é.
Outros já se cansaram, em vão.
Estou cansado de perceber que tudo o que julgava saber está errado.
Estou cansado deste teclado, veículo de palavras e mais palavras que nada valem nem são de serviço a ninguém porque amanhã serão inválidas, desmentidas por este mesmo teclado, por este mesmo escriba que já não sabe em que acreditar para além
de Cristo.
Não estou cansado de Cristo.
E é Cristo que me faz trabalhar.
E por Cristo vencerei.
No Quinto Império de todos os homens de bem.