terça-feira, fevereiro 08, 2005

Carnavalada

Chega à cidade no Inverno o circo do inferno.
De repente, solta-se um fantasismo aberrante
sobre a mágoa deste falecimento eterno:
é a dor de viver que está na máscara,
é o horror que nos guarda a vida restante.

Deuses! que ódio visceral ao Carnaval
em Veneza, triste como a morte: um corso
há-de para sempre ser feliz como um funeral
com palhaços e carros alegóricos
miseravelmente pobres, alegres sem remorso.

As brasileiras mostram vivas as carnes lascivas,
abanando nádegas no Rio de Janeiro
ou - mais vestidas por causa do frio - as divas
acenam mãozinhas trigueiras em Ovar,
arrepios tropicais em Fevereiro.

Deuses! como me leva à depressão o folião
que se veste de mulher e tem bigode e tudo.
(Toda a gente lhe acha um piadão
menos eu, que me encolho e escondo
para morrer de vergonha no entrudo).