terça-feira, abril 26, 2005

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SOS Hubble

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Por estes dias, discute-se na NASA a viabilidade do Hubble. Como se pudéssemos já passar sem ele. Como se não fosse um crime de lesa-humanidade desistir da jóia da coroa da ciência contemporânea. Agora que vimos a luz, vamos ficar cegos outra vez?

Ah, um congresso como deve ser.

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No fim-de-semana que celebra os 31 anos de Terceira República, o CDS esclareceu os portugueses sobre aquilo que falamos quando é de democracia que estamos a falar. Há muito tempo que não acontecia um congresso assim (para aí desde que o palerma do Meneses foi corrido do Coliseu dos Recreios) e foi edificante. Ribeiro e Castro ganhou - a sós e em tempo real - contra um candidato muito forte e sem apresentar listas nem precisar de assumir compromissos, ou seja: só com política e sem politiquices. O lamentável Expresso da semana que passou colocava Ribeiro e Castro no fundo da escala dos altos e dos baixos, por ser um candidato incompetente, distraído e condenado e blá, blá e pois, pois. A falabaratice dos analistas debochava de um partido cadáver que ninguém queria liderar e coisa e tal. Pois agora calem-se, senhores. Calem-se o mais silenciosamente que forem capazes de se calar.

quarta-feira, abril 20, 2005

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O desastroso - e criminoso - legado de João Paulo II só podia dar nisto: a eleição de Ratzinger, o cacique mor da Opus Dei, para Papa. Dan Brown inspirou-se nele para criar o personagem Manuel Aringarosa - o Bispo maléfico do Código DaVinci - e analisando a composição do Conclave é difícil imaginar um cardeal menos adequado para o cargo. A eleição relâmpago - concretizada em menos de 48 horas, diz bem do poder da máfia de deus e da fragilidade dos poucos cardeais lúcidos com que conta o Vaticano. Assim sendo, vamos ter, na próxima década, uma igreja de costas viradas para o mundo, fechada num dogma rico em formalismos e liturgias medievais, pobre em semântica pastoral e completamente alheada da realidade. É verdade que os verdadeiros ensinamentos de Cristo se diluem vertiginosamente, à medida que caminhamos pelo futuro a dentro. Mas, caramba, é ignóbil que seja precisamente a igreja dos seus apóstolos quem primeiro suje com corrupção, alienação e vácuo espiritual uma herança moral e filosófica que é em grande parte responsável pelo que de melhor constitui a civilização ocidental.

quarta-feira, abril 13, 2005

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O zero constitucional.

"Na Europa, muita coisa é inventada duas vezes, sendo a primeira vez na Grécia, em Atenas, e a segunda na Europa dos primórdios da modernidade; é esse o caso, por exemplo, da democracia, do teatro e também da filosofia."
- Dietrich Schwanitz - Cultura

A Constituição da União Europeia deveria ser a carta de um novo modelo regimental sobre as nações da Europa. Deveria ser a referência do pensamento ocidental contemporâneo sobre os mecanismos da democracia, do seu aperfeiçoamento e do aprofundamento dos valores que consideramos universais.
A Constituição da União Europeia devia estar para as cartas constitucionais resultantes das revoluções americana e francesa, como estas para o pensamento político dos atenienses antigos: um testemunho iluminado da evolução do pensamento - e do sentimento - humano.
A Constituição da União Europeia deveria ter sido construída pelos seus reais constituintes: os povos da Europa. Deveria ter sido discutida, problematizada, polemizada, corrigida, analisada, estudada, recriada, rescrita, emendada, pensada, participada, deveria ter sido sujeita a uma década inteira de debate aberto, de combate aceso, de ataques ferozes e de defesas eloquentes.
Esta Constituição deveria ser a bandeira para o relançamento moral e ideológico da Europa. Deveria ser uma terceira invenção da democracia, a assumpção de algo de novo capaz de rejuvenescer o velho continente.
Mas não. Trata-se apenas de uma circular entre burocratas, papel esotérico e desinteressante, documento de arquivo, procedimento protocolar. Simples peça de hardware na rede informática da decadência. E, por isso, mesmo que rectificada pelas gentes ignorantes do seu conteúdo, nunca será instrumento do progresso histórico. Nunca será - em suma - um ideal. E logo agora, que tanto precisávamos de alguma coisa em que acreditar.
A Constituição da União Europeia é o exemplo acabado de uma oportunidade perdida.

sexta-feira, abril 08, 2005

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Cansaço

Todos os que me estão mais ou menos próximos que me perdoem ou que não me desculpem, mas a verdade média é que estou só. Não estou só como quem está sozinho. Estou só como quem não tem a devida companhia. Estou só como um gorila na cidade. Estou só como um violino na discoteca. Estou só como um monstro na vila da perfeição. Estou só como um princípe na aldeia dos macacos. Estou cansado das pessoas que se cansam de mim. Estou cansado das pessoas que se cansam comigo. Estou cansado da mediocridade dos outros e da minha inerente mediocridade. Onde é que estão os abençoados de Cristo?