quarta-feira, agosto 10, 2005
mixed feelings
Estou exultante porque chegaram os valentes astronautas à boa e velha terra sãos e salvos (e com eles talvez todo um programa espacial). É o regresso do velho mito grego do retorno, agora com redenção da tecnologia humana, em directo na CNN e com um final feliz ainda por cima.
Estou triste porque não vivo ainda e não viverei nunca a idade matura da conquista espacial; que é o mesmo que dizer: da expansão verdadeiramente endémica do Virús Sapiens-Sapiens. Não consegui encontrar o link para a notícia de 5 de Agosto do DN mas acreditem em mim: um dos utensílios que o astronauta reparador levou consigo para consertar a estrutura cerâmica que impede o veículo espacial de se volatilizar quando entra na atmosfera terreste foi... fita adesiva. Sim, ou o Diário de Notícias está a abusar da minha credulidade ou a malta da NASA achou de facto pertinente apetrechar o seu mecânico estelar com a alquímica ferramenta que nós, cá em baixo, usamos para os mais prosaicos fins quotidianos, como selar uma encomenda postal ou isolar a corrente eléctrica. É verdade que o santo homem só precisou mesmo de alguma habilidade manual para executar a inédita tarefa, mas, por deus, a fita adesiva ia servir para quê?
O pomar da História está a apodrecer de provas: não é o estado que lança a humanidade para o mistério do porvir. É, sobretudo, a iniciativa individual - ou a ganância coorporativa - que movimenta com eficácia o homem na incessante viagem que faz do passado para o presente. A NASA está já fora do seu tempo. É corpo morto. Porque o tempo da conquista espacial é agora, o das empresas privadas.