quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Terreiro do Paço

É um pouco estranho, eu sei, mas na verdade esta música deve-se a umas fotos que tirei na Praça do Comércio, em 2005, a propósito de um seminário sobre cidadania que ocorreu em Palmela e para o qual fiz o design gráfico de promoção. Como gostei das fotos, esgalhei umas rimas muito aliteradas para acompanharem a inserção de algumas das imagens no blog. Mais tarde, quando comecei a brincar com o Garage Band lembrei-me que a estrutura métrica do poema se adaptava bem a uma musiquinha pop e pronto, está a história contada.
Esta é a única música, até agora, em que tento realmente cantar. Pela falta de vergonha - e de talento - peço desde já mil desculpas à gentil audiência. É que, decididamente, não nasci para isto. E, como muito bem diz uma querida amiga minha, preciso urgentemente de um vocalista.
Uma última nota: não gosto de efemérides (nem da palavra) e deixei passar em branco a que assinalava o regicídio, um dos mais tristes, canalhas e cobardes episódios da história de Portugal. Sendo, apesar de tudo, um republicano mais ou menos convicto, fiquei com remorsos de não ter editado fosse o que fosse sobre o assunto aqui no blog. Por isso, aproveitei o tema desta canção para colocar no clip algumas gravuras do atentado terrorista que vitimou um dos mais decentes monarcas da nação (e não foram muitos) mas não me sinto lá muito redimido por isso, pelo que, um destes dias - talvez amanhã, talvez em Outubro de 2014 - voltarei à carga.



Terreiro do Paço - One :kubrik

Levo a vida passo a passo:
gasto as solas ao compasso
da cidade que pulsa e arde.
Da cidade que pulsa e arde.
O Paço que passeio é um terraço,
o chão que piso é de ferro e aço
e vibra e brilha ao sol da tarde.
E vibra e brilha ao sol da tarde.

Terreiro do Paço. Terreiro do Paço.
Terreiro do Paço, já não sei o que faço.

Paro e tiro um cigarro do maço:
transitam transeuntes em cansaço
com a pressa que levam na boa.
Com a pressa que levam na boa.
Vão d’ombros caídos pelo Paço,
o destino é um cheirinho de bagaço
e de sonhos traídos à toa.
E de sonhos traídos à toa.

Terreiro do Paço. Terreiro do Paço.
Terreiro do Paço, já não sei o que faço.

Este é o movimento escasso,
é a praça que devagar devasso,
são as ruas do tempo que voa.
São as ruas do tempo que voa.
O futuro é um buraco no espaço,
esta é a distância que eu abraço
e roubo aos deuses de Lisboa.
E roubo aos deuses de Lisboa.

O Paço que passeio é um terraço,
o chão que piso é de ferro e aço:
Terreiro do Paço, Terreiro do Paço,
Terreiro do Paço, já não sei o que faço.

Já não sei o que faço.