Estou de fora, sou de nenhures
e nasci em conadunte.
Não dou as mãos a senhoras e senhores
sem que o criado as besunte
em caldo de bagaço.
Já não sou do clube e o partido
está abaixo de ranhoso.
Não sou daqui nem respondo ao pedido
do solidário manhoso,
espécie de palha d'aço.
Tirei a dentadura que me disfarça
o sorriso de cigano,
arrebentei com a danada da mordaça,
não sou daqui, sou marciano
de Shalimar, o palhaço.
Sem passaporte, sem visto de saída
e com uma certeza só:
a água de Marte é um valor de vida
para além da Terra e do pó
e da berraria que faço.
(E se puder passar para o lado de lá, passo).