quinta-feira, julho 31, 2008

Um monstro do sono.

Toda a gente que me conhece sabe que, se há uma danada característica que me distingue dos correntes mortais, é a maneira como durmo. Ou nadinha, ou muitíssimo e geralmente de dia. Não é invulgar que me apanhem no abismo dos dorminhocos profundos por volta das 16h00. Nem anormal que às 9h00 seja tempo de surgir em cena o meu bastante esquizofrénico e exclusivo João Pestana. Talvez por isso, me retrate a minha sobrinha Madalena querida assim desta maneira genial:


No contexto do magnífico boneco e do meu épico-trágico-sonoro abandono ao Senhor Morpheu, trago para aqui um poema que é tão antigo ou mais do que este blog, agora cozinhado numa panela sónica de aço inoxidável, ruído deveras desagradável, mais ou menos como o ressonar que eu não oiço (porque sou eu que ressono), ou a paz que não sinto, como quem entra em coma de absinto. Enfim, e apesar de tudo, uma barulheira enorme:

Ode Sorporífera 2.aif -

ODE SOPORÍFERA

Mesmo antes do primeiro bocejo,
vem do inferno o João Pestana
para me dar um beijo.
Traz no hálito o ópio da noite,
esse doce leito em que me deito,
esse incenso maldito que vomito.
E como quem parte rumo ao esquecimento,
durmo o abandono.
Não dou sinais de vida
nem arrais ao pensamento;
apenas ressono.
Mergulho numa tranquila inconsciência sem retorno,
um transe profundo e quieto,
um delírio de silêncios completo:
Morpheu é meu senhor e dono
e eu sou enfim um monstro em coma
no sarcófago do sono.